Review: Divergente

Depois do sucesso Jogos Vorazes, era só uma questão de que outros livros “para jovens” com uma temática mais ou menos parecida e com uma personagem principal feminina ganhassem adaptações para o cinema. Nada mais justo, desde que fosse feito de uma maneira que não parecesse apenas uma maneira de faturar uma grana em cima de “uma nova moda”. E essa é a impressão que ficou após o término de Divergente.

O filme conta a história de uma Chicago sitiada após uma terrível guerra que, aparentemente, dizimou milhões de pessoas nos EUA. Para manter a paz, foram criadas divisões baseadas nas predisposições de habitantes, dividindo pessoas em bairros com outros da sua mesma “classe”.

Temos lá o grupo responsável pela verdade, outro pela agricultura, um de intelectuais, um de pessoas altruístas e outro responsável pela segurança de todos, que são destemidos e “cool guys”. No meio disso tudo, temos Tris, interpretada pela Shailene Woodley.

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Ela passa pelo teste que vai determinar em qual local ela deve se encaixar pelo resto de sua vida, baseado na maneira como sua mente trabalha. Como ela consegue se encaixar em todas as possibilidades, é considerada uma divergente, algo que é caçado nessa sociedade, já que apresenta uma ameaça ao modo como as coisas são operadas.

Mesmo assim, como uma forma de entender o que está acontecendo, ela se junta à patotinha dos “cool guys”, conhece um treinador misterioso e que quer pagar de galã e o resto você pode deduzir.

Será que é preciso ler o livro Divergente pra gostar do filme?

Pra começar bem: Eu nunca li Divergente. Se isso é um problema para gostar de verdade do filme, posso argumentar que ele é uma péssima adaptação.

Ele tem tudo ali pra ser um bom filme: um elenco com bons nomes, uma trama que, na teoria, é interessante, ação, um pouco de romance e pronto. Só que é tudo feito de uma maneira tão “nas coxas” que a impressão durante várias cenas é de que se está assistindo a um piloto de uma série com um orçamento generoso.

Nada realmente captura a atenção do espectador, que está ali apenas esperando que as cenas aconteçam na ordem que eles já acham que vai acontecer.

DIVERGENT

Fazendo uma comparação inevitável com Jogos Vorazes, quando a Katniss encontra o Gale e/ou o Peeta, você sente que vai rolar uma tensão, um romancezinho, mas o filme mostra que aquele não é o foco, o que faz com que ele funcione MUITO bem.

Divergente sofre do mal que, quando ele começa a querer ficar interessante, surge o Quatro (sim, ele é chamado de 4, apesar de ter um nome) e o negócio desanda. A tensão existe, mas ela não serve só como pano de fundo para algo muito maior. A Tris meio que se torna dependente dele, até fazendo as coisas para se encaixar melhor na sociedade dos “cool guys” e ganhar a sua aprovação.

Enquanto isso acontece, a tal trama importante fica completamente em segundo plano, o que acaba fazendo com que o terceiro ato, apesar de agitado, perder muito do seu peso.

Uma heroína “bege”

Shailene Woodley está sendo considerada uma potencial nova queridinha de Hollywood. Depois de ter trabalhado com o George Clooney em Os Descendentes e ter estrelado o bem sensacional The Spectacular Now, ela começou a ser mais observada.

DIVERGENT

O fato de ela ter sido escalada como Mary Jane Watson em O Espetacular Homem-Aranha 2 (e suas 2 ou 3 cenas terem sido cortadas por não encaixarem bem no filme) e ela ter conseguido o papel principal de Divergente meio que a colocou em outro nível, mas parece que aconteceu algo de muito errado aqui.

divergente1Ela é uma boa atriz, mas em nenhuma cena ela consegue fazer com que você se importe com a personagem, muito menos torça por ela durante o filme. Ela simplesmente reage e está lá como stand-in de heroína, esperando o momento pra dar uns tiros, falar uma frase de efeito e beijar o galãzinho.

E isso parece ser um problema de todo o elenco, que está ali meio que pra tentar fazer um trabalho aceitável, mas nada além disso.

Ao final das mais de 2 horas de filme, com um gancho para uma sequência que já foi confirmada (e que deve mesmo deixar a atriz principal fora do papel da Mary Jane em O Espetacular Homem-Aranha 3) a pergunta que fica é “Qual é a necessidade disso?”.

Durante todo o filme, fica claro que ele não foi produzido dessa maneira porque tem uma história primorosa (talvez o livro até tenha) ou atuações incríveis. A impressão é que viram o sucesso de Jogos Vorazes e encontraram aí uma oportunidade de fazer dinheiro sem muito esforço.

Tá dando certo, mas isso não muda o fato de que Divergente é um filme que possivelmente será esquecido com o passar do tempo.

  1. Pra você ter uma idéia o filme tem quase duas horas e meia e só na última hora que é explicado que é o tal do “Divergente”. Isso não seria um problema se o filme todo não fosse em cima disso, ela tem que esconder que é a tal Divergente mas… o que é esse Divergente, na prática?

    Ela faz cocô azul? Emite ondas blutz que transforma os sayajins em macacos? Ela fica vermelha e se transforma no incrível Mulk? Sem ser em termos metafóricos (“ela não pode ser controlada/é uma ameaça ao sistema/etc”), o que é o tal do Divergente afinal?

    fica dificil simpatizar com o drama da moça quando o filme não tira dois minutos para nos contar o que é esse tal drama, é como fazer o filme de uma família lutando contra a doença de Vlouistrom sem nunca dizer o que é a doença senão “oh, é algo terrível!”.

    E se a premissa principal do filme é tratada assim, você já pode imaginar como ficam as coisas menores…

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