Townsmen VR (Review)

Por Luis Fernando Guimarães

Admito que jogos de estratégia e simulação não são os primeiros que me vêm à cabeça quando o assunto é VR, e estavam completamente fora do meu radar enquanto montava minha wishlist de jogos assim que comprei o PSVR2. Com a experiência de incontáveis horas jogando SimCity, Civilization, e outros, sempre associei tais gêneros com o PC – talvez por serem jogos mais calmos e longos, ou por achar que a imersão em um ambiente virtual era desnecessária para um bom game de simulação. Eis que me surge a oportunidade de jogar Townsmen VR, e todas as minhas expectativas são contrariadas.

O jogo desenvolvido pela HandyGames é de altíssima qualidade, e com certeza foi o mais jogado no meu PS5 por umas boas semanas. Sim, o vício foi instantâneo!

Em Townsmen VR você assume o papel de um auxiliar de uma família real na era medieval. Em companhia de Sir Clunkalot e outros personagens, o jogador deve navegar por diversas ilhas desbravando novos territórios e resolvendo conflitos (geralmente na base da força) com piratas e opositores do rei.

A premissa é simples: em cada ilha pela qual passam os personagens, o jogador deve desenvolver uma pequena comunidade e atingir objetivos específicos do mapa, que variam desde a obtenção de recursos específicos, treinamento de unidades militares ou até mesmo construção de um porto e navios para exploração de outras ilhas.

Em muitos casos o trabalho começa do zero. Com apenas dois ou três construtores e um punhado de recursos, o jogador deve definir prioridades e alocar a mão de obra de forma eficiente para expandir a população e iniciar cadeias produtivas funcionais. Se estiver precisando de pão, por exemplo, precisará de um forno, cujo pré requisito é a construção de um moinho de vento. O moinho de vento, por sua vez, deve ser abastecido com trigo vindo de uma fazenda. E ainda, todas as construções precisam de tábuas de madeira, pedras, às vezes ouro e ferro, todos materiais com processos de coleta e produção distintos.

Algumas unidades, como os cavaleiros, requerem uma quantidade enorme de recursos e mão de obra para serem recrutados pois necessitam que sejam forjadas espadas e armaduras, barras de ouro e comida, além da construção de um castelo (que, claro, possui seus próprios pré-requisitos para ser construído). Devido à complexidade das cadeias de produção de algumas das missões, por mais eficiente que seja o planejamento da cidade, o objetivo final só é atingido após horas de jogatina.

Townsmen VR

Até aqui nenhuma novidade, pois muitas das mecânicas de Townsmen VR já foram exploradas à exaustão em jogos de gerenciamento de cidades do passado, como Caesar, Pharaoh e Knights and Merchants. Não que isso seja um ponto negativo, pois elas funcionam muito bem, mas o grande diferencial é a forma como os recursos de VR são integrados no jogo.

Com uma visão aérea da sua ilha, a administração das colônias é feita literalmente com as próprias mãos. É possível manipular recursos e trabalhadores pegando eles com as mãos e alocando onde forem necessários. A pedreira está muito longe das suas construções e seus trabalhadores estão levando horas para transportar todos os blocos? Sem problema! Pegue você mesmo e transporte os recursos manualmente em segundos. Está atacando as defesas do inimigo e ele destruiu a única ponte que dá acesso ao seu castelo? Tranquilo! Agarre seus soldados um a um e leve-os ao outro lado do penhasco. Em alguns mapas há ainda tesouros escondidos em áreas inacessíveis aos seus colonos, cabe ao jogador explorar o mapa e sair catando os valiosos baús.

Através dessas dinâmicas, muitas vezes foi possível sentir como se estivesse brincando com bonecos em cidadezinhas de miniatura, e não jogando no PS5. Dá pra pegar cada unidade, trabalhador, recurso, até mesmo os gatos e cachorros da vila para colocar na palma das mãos e analisar de perto. Acredito que este é um ponto fortíssimo e o segredo do encanto proporcionado por Townsmen VR.

Outro tópico que chama a atenção é a forma com que a dificuldade é gradualmente aumentada em cada ilha. Depois de ter construído meia dúzia de cidades, é de se supor que as coisas se tornem um pouco repetitivas, mas os desenvolvedores atacam o problema de forma interessante e criativa.

O fato é que cada ilha possui geografia e características únicas. Assim, nada garante que as estratégias de planejamento aplicadas no estágio anterior serão eficientes novamente. Em certas ilhas, todos os recursos são muito distantes uns dos outros, o que pode causar atrasos no transporte dos mesmos, além de ser um inferno para microgerenciar cada projeto caso se deseje alocar manualmente os recursos (é de cansar o braço se for pegar tijolinho por tijolinho para cada construção).

Outras ilhas possuem terrenos montanhosos e acidentados, o que dificulta o posicionamento de estruturas muito grandes (como a fazenda, taverna e moinho) em lugares estratégicos. Há ainda locais onde certos recursos simplesmente não existem, e a única forma de obtê-los é através da troca de recursos locais com navios mercantes.

Ainda muito fácil? Ok, também temos os estágios nos quais piratas atracam na ilha periodicamente e pilham todos os recursos coletados até que a cidade tenha unidades militares suficientes para se defender. Apesar de na maioria dos casos não haver o risco real de levar um game over – pois os piratas não atacam diretamente os civis, desde que não sejam provocados – a frustração de ter o desenvolvimento da cidade freado a cada momento é igualmente irritante.

Quanto aos pontos negativos, não vi nada de grave, mas se for pra apontar algumas minúcias, senti que o jogo pegou um pouco pesado nos tutoriais. As primeiras ilhas são na realidade enormes tutoriais disfarçados de estágios, onde tudo é explicado detalhadamente e o jogador deve fazer as coisas exatamente como é solicitado. Não há poder de escolha e tudo fica muito engessado.

Lá pela 4ª ou 5ª ilha o problema desaparece, pois os objetivos são mais amplos e há maior liberdade em como alcançá-los. Outra coisa é a dificuldade quase inexistente: por mais ineficientes que seja a sua administração, é apenas questão de tempo até que os objetivos sejam cumpridos. Sim, pode levar dias, mas um dia você chega lá, pois os recursos até onde sei são infinitos, e os inimigos nunca varrem as suas cidades do mapa.

Tudo considerado, devo dizer que as ótimas mecânicas de jogo integradas com as novidades proporcionadas pelo VR fazem de Townsmen VR um excelente jogo, e pra quem curte simulação, uma adição obrigatória em sua biblioteca de jogos.