Creed III (Review)

A franquia Rocky é uma das minhas favoritas por ser extremamente simples, mas ainda conseguir passar uma mensagem bem clara sobre superação. Aquele papo de bater e levantar pra tentar novamente. Bonito. A franquia Creed, desde o primeiro filme, tem uma outra mensagem, que é a de conciliar o seu legado, superar o passado e trilhar o seu próprio caminho. Também é muito bonito, mas Creed III me dá a impressão que a história de Adonis não é tão corajosa quanto a do Rocky, que não teve medo de mostrar fragilidade, e passa uma mensagem que chega a ser a de alguém que não está disposto a aprender com seus erros.

O passado mais uma vez atormentando Creed

Depois de ter se resolvido com o legado do pai e ter amontoado na porrada o filho do cara que tombou o velho no soco (If he dies, he dies), Adonis virou campeão supremo e resolve se aposentar dos ringues, focando em uma nova carreira agenciando lutas.

Nesse momento, Damien, um amigo do passado ressurge na sua vida. Damien passou os últimos 18 anos preso por algo que aconteceu com ele e Adonis em uma fatídica noite. Damien era um boxeador talentoso, mas a prisão o impediu de iniciar sua carreira como boxeador profissional.

Desde os primeiros momentos do filme, é possível notar o incômodo de Adonis ao ver Damien na sua frente. Damien, interpretado pelo Jonathan Majors, se mostra um personagem muito mais interessante que o próprio Creed.

Majors consegue transmitir uma aura de vulnerabilidade e ameaça ao mesmo tempo que é algo realmente impressionante de se ver. Pois você acredita que aquela pessoa pode estar ali querendo algo mais, ou simplesmente buscando construir uma vida que não teve oportunidade de viver.

E isso acaba criando um desconforto no fato de que na primeira metade do filme, a história está focada no Adonis, mas claramente ele parece esconder algo, fazendo com que o espectador simpatize muito mais com o Damien. Pode ser pelo fato do Majors ser um ator mais capacitado que o Michael B. Jordan, que por si só também é um ótimo ator, mas fica uma impressão de “O Creed fez cagada e tá com medo de tudo desmoronar ao seu redor por causa do cara”.

E essa impressão acaba dando abertura pra uma história muito melhor do que a contada em Creed III. Isso porque, em dado momento, Damien recebe uma nova oportunidade na vida e o filme simplesmente abandona qualquer traço de evolução na história pra cair na mesmice.

Creed III

Existe um ponto bastante específico no filme em que ele muda consideravelmente o caminho que estava seguindo e passa a se tornar algo que não é particularmente interessante. Fica uma impressão que uma história foi filmada, o filme foi exibido e alguém do estúdio ou sei lá quem resolveu que deixava o Damien como principal e o Creed como possível culpado pelos problemas da vida do cara, quase como vilão, e isso não podia acontecer.

Talvez o que chega aos cinemas seja o plano original mesmo e eu estou só ficando louco, mas existe um filme melhor baseado na primeira metade dele. Não que ele seja ruim, mas podia ser tão mais marcante.

Michael B. Jordan é um otaku safado

Creed III não traz a participação de Sylvester Stallone como Rocky, devido à treta dele com os produtores sobre os direitos da franquia, e Michael B. Jordan assume a direção do filme e devo dizer que, mesmo com alguns problemas que eu tive com o desenvolvimento da história, é inegável que o cara leva jeito como diretor.

Antes do lançamento do filme, ele revelou que se baseou em animes para filmar as cenas de luta e, maluco, como isso fica aparente. Primeiro que ele mostra que o próprio Adonis era um nerdão, com umas referências obscuras de animes e outras nem tanto (Naruteiro safado), mas quando o pau come, tem muita coisa de animação japonesa ali.

Diria até que, junto das Wachowski e seu Speed Racer, o Jordan talvez seja o diretor que mais se aproximou da estética de um anime, principalmente numa cena em que o negócio tem até dois malucos se olhando e gritando um pro outro antes de cair na porrada.

Como terceiro filme da franquia, eu diria que ele é o mais fraco, apesar de ainda ser bom (os outros é que são realmente melhores). Como um primeiro filme para o diretor Michael B. Jordan, eu diria que estou MUITO interessado em saber se ele já tem outros projetos engatilhados e se envolvem pancadaria inspirada em anime porque nisso ele mostrou que sabe fazer tudo bem direitinho.