Babilônia (Review)

Existe uma música na trilha sonora do filme Ruas de Fogo chamada Nowhere Fast que tem um trechinho que ficou na minha cabeça sempre que penso em Babilônia, novo filme de Damien Chazelle.

There’s nothin’ wrong with goin’ nowhere, baby

But we should be goin’ nowhere fast

Babilônia é exatamente isso. Em vários momentos não vai a lugar algum, mas vai numa velocidade caótica assustadora. Faz sentido ele ter suas mais de 3 horas de duração exatamente por essa vontade louca de contar uma história épica sobre a era do cinema mudo em Hollywood e sua transição para o cinema falado, mas é tudo tão caótico desde o primeiro minuto até o último que nada têm tempo para respirar e se desenvolver tão bem como merecia.

Caos, gritaria e terra sem lei: essa é Hollywood

Os primeiros 20 minutos de Babilônia são alguns dos mais sujos e caóticos que eu vi no cinema nos últimos tempos. Desde um elefante defecando na câmera até uma jovem urinando em um senhor obeso e nu deitado no chão, o negócio tenta mostrar a verdadeira terra sem lei que era Hollywood no auge do cinema mudo.

Babilônia
Foto: Paramount Pictures

Dá pra entender o que o diretor quis fazer, mostrando que era uma época sem regras, em que aqueles envolvidos com cinema eram praticamente selvagens, movidos à sexo, suor e MUITA droga, ganhando rios de dinheiro enquanto trabalhavam bêbados sem qualquer segurança.

E veja só, não duvido que era assim, mas a maneira como o Chazelle colocou isso em Babilônia é tão exagerada e barulhenta que você acaba se desprendendo de tudo e fica só tudo absurdo. Talvez na vontade de criar algo elétrico, o diretor se passou um bom tanto. Não seria problemático se isso acontecesse em uma outra cena, mas é praticamente o filme inteiro assim, dando a impressão de que tudo é um grande acidente que você não consegue parar de ver.

Gente aparecendo e sumindo como se fosse nada

Babilônia tem como foco três personagens: Manny, um mexicano interpretado por Diego Calva, Nellie LeRoy, uma aspirante a estrela interpretada pela Margot Robbie, e Jack Conrad, um astro do cinema mudo interpretado pelo Brad Pitt.

O filme acompanha esses três personagens e sua trajetória de ascensão e queda em Hollywood durante um período que mostra o auge do cinema mudo e a chegada dos filmes falados. O caos de Babilônia acaba soterrando uma história bem interessante sobre esses três personagens pelo simples fato de querer empurrar tanta coisa ao mesmo tempo que eles não são tão bem desenvolvidos como poderiam.

Foto: Paramount Pictures

Mais de uma vez, você percebe que tem algo mais ali sobre os três e parece que vai saber logo, mas esse logo nunca chega de verdade pois o diretor resolveu jogar mais uma dúzia de personagens e acontecimentos barulhentos que servem apenas para fazer barulho em cima de tudo. Fora que logo em seguida, muitos desses personagens simplesmente somem do filme.

Isso talvez tenha sido o que mais me incomodou em Babilônia, pois você percebe que existe ali embaixo um filme muito mais interessante do que foi lançado, mas tudo ficou muito superficial para focar em caos e doideira.

Foto: Paramount Pictures

Enquanto a Margot Robbie é realmente uma estrela, pegando um papel que poderia ser irritante, e entregando muito mais do que o esperado, e Brad Pitt vai muito bem como um ator que teme ver o seu fim na indústria, Diego Calva, que deveria ser o personagem principal, quase um avatar do público dentro da história, não é forte o suficiente para segurar essa bucha e em momento algum você se importa com ele ou suas escolhas.

Uma grande bagunça

Babilônia é uma grande bagunça. Não diria que é um filme ruim, até porque por mais que seja um grande amontoado de “coisas loucas acontecendo”, tem muita coisa legal ali no meio. As cenas que realmente mostram como o cinema era feito naquela época, seja em grandiosos filmes em que a segurança de figurantes era completamente esquecida em prol de um take legal, ou uma dúzia de filmes sendo gravados lado a lado porque dane-se o barulho, era cinema mudo, é muito legal.

Outra cena de destaque é quando mostra a transição para o cinema falado e a dificuldade dos envolvidos em conseguir filmar tudo sem problema. Só que o filme passa por isso e já cai em mais uma cena caótica, talvez com alguma nojeira ou alguém usando quantias cavalares de alguma droga porque “eles são muito doidos, galera”.

Babilônia
Foto: Paramount Pictures

No fim, Babilônia é basicamente o que aconteceria quando você pega um jovem diretor fã da história de Hollywood que ganhou um Oscar, dá um monte de dinheiro e fala “Faz um filme aí”, só que não tem ninguém pra segurar um pouco a onda dele. A vontade de romantizar uma Hollywood, mas ainda assim querer mostrar como aquela merda era um Velho Oeste na época do cinema mudo, é interessante, mas ao mesmo tempo ignora que as coisas continuaram caóticas depois.

Isso mostra que Babilônia, mesmo com um elenco absurdo e ótimas ideias que surgem de vez em quando, ainda peca por ser bastante superficial. No fim, fica só o barulho pelo barulho e homenagem um tanto equivocada ao cinema que foi, que é e que será.