Eu nunca me empolguei muito com Minecraft. Tentei jogar algumas vezes, achei a ideia interessante, mas o fato de ser um grande espaço livre pra fazer o que bem entende não era algo que me atraía tanto. Eu sempre precisei de um objetivo nos meus jogos e Minecraft era “aberto demais” pro meu gosto.
Mesmo assim, reconheço o fenômeno que o jogo se tornou, que acabou transformando o game da Mojang no mais vendido da história. Pura doideira. Quando os rumores sobre uma adaptação pro cinema começaram a surgir, anos atrás, eu não botei muita fé. Alguns jogos de fato criaram uma historinha dentro do universo de cubos, mas nada grandioso.
Aí a Warner foi lá e anunciou elenco e eu ainda pensava “Ah, vão fazer uma animação, né?”. Até que as primeiras imagens surgiram e bom, era live action mesmo.
Muitos fãs do jogo torceram o nariz porque, apesar de muita coisa estar muito bem transportada pro cinema, a parte com atores mostrou que talvez o filme não foi feito pros marmanjos que jogavam Minecraft quando eram crianças (Meu Deus, o jogo saiu há 16 anos!).
Só que o filme foi feito para as crianças de hoje que jogam Minecraft. E talvez isso não seja errado. Os diretores poderiam ter feito algo mais próximo de Super Mario Bros – O Filme, mirando em TODO MUNDO que gosta do Mario, atingindo as crianças e os marmanjos que ficaram emocionados ao ouvir a música da estrelinha tocar no cinema.
Porém, Um Filme Minecraft é claramente feito para um público bem infantil, a escolha foi feita, o que não significa que ele seja um filme ruim. Só que também não significa que ele seja muito bom.
Minerando e construindo
Um Filme Minecraft começa com uma explicação rápida sobre o que é Minecraft e quem é Steve, personagem “interpretado” pelo Jack Black (já explico essas aspas). Em poucos minutos, entendemos como ele queria ser um minerador, como ele foi parar no Overworld, o universo do game, e meio como o lugar funciona.
Confesso que eu gostei bastante que o filme não ficou dando grandes explicações sobre o funcionamento do universo de Minecraft. É meio que “Então, é isso aí. Funciona assim. Não pense muito, só aceite e vamo que vamo”. Isso ajuda a deixar o filme mais leve, sem aquela necessidade constante de explicar como as coisas funcionam.

E é nesse universo que conhecemos Garrett, um sujeito que foi um astro dos videogames quando era adolescente, no final dos anos 80, mas agora vive de glórias (que são bem questionáveis) do passado. Junto deles, temos Natalie e Henry, dois irmãos que se mudam para uma cidadezinha após a morte de sua mãe.
Henry é o equivalente ao “jogador” no filme, uma criança cheia de criatividade que consegue construir quase tudo, ainda que isso não pareça muito legal no mundo real.
O longa traz uma trama completamente inédita, até porque Minecraft nem tem uma história fechada, justificando porque ele não se chama apenas “Minecraft”, mas sim “Um Filme Minecraft”, deixando a porta aberta para mais filmes dentro desse universo.
Eu não sou o público desse negócio
Dito tudo isso, eu consigo ver valor em Um Filme Minecraft como uma diversão pra família, com algumas ótimas referências pros fãs, mas que é bastante focado em crianças. Sabe quando você vê aquela criancinha com uma mochilinha ou caderno de Minecraft, que fica louco quando vê um bonequinho de Creeper? Então.
O filme não me pareceu ofensivo para fãs, trazendo até alguns elementos que parecem estar ali pra agradar a comunidade, mas ele tem um tom bastante específico, mirando em um público mais infantil.

Isso não me fez desgostar do filme, mas em boa parte das cenas, ele deixa claro que eu não sou o público alvo dele e está tudo bem. Apesar de estar longe de ser perfeito, o fato de Um Filme Minecraft não ficar atirando pra todos os lados pra agradar todas as idades chega a ser até louvável. Ele sabe o que é e não tem medo disso.
Então, existem piadas e situações que não funcionam tão bem por serem bastante inocentes e infantis, mas quando você percebe isso (e o filme faz isso logo de cara), meio que aceita o filme pelo que ele é.
Alguém precisa parar o Jack Black
Quem segura muito o filme é o Jack Black e o Jason Momoa, mas em níveis diferentes. O Momoa, como Garrett, mostra mais uma vez o quanto ele se diverte nos filmes que faz, abraçando a galhofa com vontade e se jogando na ridiculice sempre que possível. Acho que boa parte do carisma dele vem disso e é algo muito legal.
E aí temos o Jack Black, que é um cara que eu até gosto, que quando funciona, funciona DEMAIS, mas em alguns momentos, mostra que ele não atua.

Todo personagem que o Jack Black faz é o Jack Black atendendo por um outro nome. Em Um Filme Minecraft, ele é o Steve, o “personagem padrão” dos jogos e é legal como eles mostram o porque ele foi parar naquele mundo cúbico e colorido.
Só que o Jack Black insiste em fazer as mesmas caretas e maneirismos de Jack Black no papel. Ele canta, porque é óbvio que ele ia cantar, porque é o Jack Black. Em uma cena, é meio vergonhoso, mas faz sentido no contexto da cena. Só que aí acontece de novo mais pra frente e você fica pensando qual é a necessidade disso além de massagear o ego dele.
Se não fosse o Momoa abraçando a cretinice no meio, ficaria cansativo.
Não é pra mim, mas as crianças podem adorar
Um Filme Minecraft é um bom filme tipo Sessão da Tarde, com momentos que me fizeram pensar “Ahh é tipo um filme da Xuxa ou dos Trapalhões, só que muito caro”. Isso não chega a ser um problema, eu gostava muito dos filmes dos Trapalhões quando era criança. Só que eu não sou mais criança.
Um Filme Minecraft estreou dia 3 de abril nos cinemas de todo o Brasil.