O cinema americano sofre há anos de um problema de originalidade que faz com que quase todos os blockbusters que chegam à telona tenham a obrigação de criar uma franquia. Quando estreou em 96, Twister só queria contar uma história maluca sobre cientistas caçando tornados e era isso. Apesar de ser essencialmente uma sequência, Twisters consegue passar essa mesma sensação de “eu vou me divertir durante duas horas no cinema e tá tudo bem”.
Mesmo podendo ser classificado como mais um filme na aparente infinita leva de adaptações, reboots e sequências que domina Hollywood há anos, Twisters é o tipo de produção que mostra que ainda é possível ter filmes gigantescos, mas com aquele clima de anos 90, em que nem tudo era uma preparação para um universo compartilhado.
Tudo novo, mas ainda familiar
Twisters carrega muito pouco do primeiro filme, sendo essencialmente uma sequência praticamente só em nome. Existe um elemento logo no começo da história que dá a entender que estamos tratando da mesma linha de tempo, mas é só isso.
Nenhum personagem do filme original aparece, fazendo com que a sequência seja essencialmente seu próprio filme. Apesar de isso poder decepcionar quem esperava uma conexão maior, os produtores do longa já haviam deixado isso claro antes da estreia exatamente para que o público pudesse assistir tudo como se fosse a primeira vez.
Mesmo assim, Twisters é um filme que parece extremamente familiar para quem assistiu ao original, mesmo tendo uma história e personagens diferentes.
O novo filme gira em torno de Kate, personagem interpretado por Daisy Edgar-Jones, de Normal People, uma jovem com um instinto quase sobrenatural para prever eventos meteorológicos e que está fazendo um experimento para tentar dissipar tornados.
Após uma tragédia, ela se afasta da ideia, apenas para ser trazida de volta por um velho amigo que apresenta uma nova forma de estudar os fenômenos da natureza. Nesse embalo, ela conhece Tyler, um caçador de tornados que tem um canal no YouTube e é famoso por ser um completo maluco que chega a entrar no meio do caos pra poder filmar tudo.
A maneira como a história evolui não é particularmente inovadora e é possível adivinhar o que vai acontecer com certa antecedência, mas, mesmo assim, Twisters prende a atenção do espectador desde a primeira cena.
Ele entrega o suficiente sobre os seus personagens para o espectador ter o mínimo de noção de quem eles são e porque agem do jeito que é mostrado, mas sabe que todo mundo está ali para ver o caos de tornados e um bando de maluco correndo atrás deles.
Twisters foi filmado usando o mesmo tipo de filme Kodak 35mm que foi usado no original, o que também passa uma sensação de estar assistindo algo um pouco mais analógico, se é que isso faz muito sentido. É estranho, mas isso faz com que o longa passe uma sensação de ser mais “real” do que se fosse tudo gravado com câmeras digitais.
Mesmo com os efeitos especiais significativamente melhores que em 1996, Twisters não parece algo “perfeito” demais na tela. Sei que isso parece esquisito, mas por não parecer algo “limpinho”, o diretor Lee Isaac Chung, do indicado ao Oscar Minari, resgatou o clima de um Blockbuster dos anos 90, mas com efeitos atualizados.
Nem só de tornado e destruição se faz um filme
Twisters poderia focar muito bem no caos dos tornados e boa parte do público ainda sairia feliz do cinema, mas o filme ainda traz um bom grupo de personagens com motivos interessantes o suficiente para fazer com que as duas horas de duração passem voando.
Apesar de às vezes parecer ingênua demais, Kate, a personagem de Daisy Edgar-Jones, é um bom fio condutor para toda a história. Traumatizada por um desastre do passado, ela acaba se envolvendo novamente com a caçada de tornados e vai recuperando sua confiança e suas ideias para salvar mais pessoas do desastre.
A atriz, que ficou conhecida por estrelar a série Normal People, vai bem no seu primeiro papel em um Blockbuster, além de ser lindíssima o que me deixou bastante feliz de ver tudo em IMAX. Outro grande atrativo para o IMAX, aí já do gênero oposto, é Glen Powell, ator que aparentemente vai participar de tudo pelos próximos anos.
O ator, que chamou atenção em Top Gun: Maverick e na comédia romântica Todos Menos Você, interpreta Tyler, o domador de tornados com um canal do YouTube. Claramente, você percebe que os dois personagens são diferentes o suficiente para criar uma dinâmica que evolui ao longo do filme, mas isso poderia falhar miseravelmente se não fosse jeito de atuar de Daisy Edgar-Jones e do carisma de Powell.
Os dois funcionam muito melhor do que eu esperava, tornando toda a experiência bastante divertida.
Outros nomes completam o elenco, como Anthony Ramos, de Hamilton, como um velho amigo de Kate que traz ela de volta para o caso, e David Corenswet, o futuro Superman, em um papel em que o ator parece abraçar com toda a sua força a ideia de ser um absoluto babaca. Confesso que isso me deixou ainda mais curioso pra ver o ator como o herói da DC em 2025.
Twisters: caos e diversão no cinema
Twisters é surpreendentemente um dos filmes mais divertidos dessa leva de blockbusters do verão americano de 2024. Com um elenco charmoso, ótimas cenas de ação e um clima que há muito tempo parecia ter sumido de produções de Hollywood, o longa é uma ótima pedida para se ver nos cinemas.
Divertido, tenso e absolutamente caótico, Twisters é uma sequência que respeita o espírito do original e ainda consegue valer a pena pelos seus próprios méritos.