O Senhor dos Anéis A Guerra dos Rohirrim
Imagem: Warner Bros

O Senhor dos Anéis — A Guerra dos Rohirrim (Crítica)

A trilogia O Senhor dos Anéis foi um marco no cinema e que pode ser argumentado que nunca mais vai acontecer algo igual em Hollywood. Os filmes de Peter Jackson parecem ter sido feitos no momento certo e, principalmente, do jeito certo, com um elenco absurdo (não dá pra imaginar outros atores pros papéis), misturando efeitos visuais criados por computadores com efeitos práticos, e respeitando até onde podia a obra original de J.R.R. Tolkien.

Desde então, outras produções baseadas nas obras de Tolkien chegaram às telas, inclusive com Peter Jackson novamente no comando, mas nenhuma conseguiu ser tão certeira quanto a trilogia do começo dos anos 2000. 

A Warner Bros tenta novamente beber da fonte com O Senhor dos Anéis — A Guerra dos Rohirrim, animação do estúdio japonês Sola Entertainment em parceria com a Warner Bros Animation. O filme acerta ao não tentar readaptar a Guerra do Anel, mas explorar uma passagem dos apêndices de O Senhor dos Anéis sobre Helm Mão-de-Martelo e uma guerra entre o povo de Rohan contra os Terrapardenses.

Uma princesa esquecida

Narrado pela atriz Miranda Otto, que interpretou Éowin na trilogia live action, A Guerra dos Rohirrim se passa quase duzentos anos antes da Guerra do Anel, focando no reino de Rohan. Em vez de colocar Helm, o nono rei da primeira linhagem real de Rohan, o filme gira em torno de Hera, princesa que vive livre pelos campos, cavalgando e jogando bife pras grandes Águias.

O Senhor dos Anéis A Guerra dos Rohirrim
Ela dá bife pra águia mesmo (Imagem: Warner Bros)

Essa é a forma como somos apresentados a personagem, demonstrando que ela não é rebelde, mas sim livre para viver a sua vida como bem entende, com a aprovação de seu pai. Isso muda quando o líder das Terrapardenses, Freca que há tempos não é tão leal ao rei, tenta propor uma união entre suas casas, casando Hera com seu filho, Wulf.

Os dois se conhecem desde crianças e parecia algo bom, se não fosse o caso de Freca claramente querer roubar o trono. Depois de um bate boca, Freca e Helm resolvem brigar e, mostrando porque é chamado de “Mão-de-martelo”, após dar apenas UM soco, Helm mata o oponente.

Isso causa uma ruptura forte entre o povo de Rohan e os Terrapardenses, com Wulf sendo banido pelo rei. Como você já deve imaginar, isso não fica assim, dando início à tal guerra do título.

Ao colocar Hera como ponto central da história, e quem acaba servindo como os olhos do público no filme, isso acaba jogando toda atenção para o seu desenvolvimento, o que talvez seja o maior problema de Guerra dos Rohirrim.

Desde os primeiros minutos de filme, é relatado que Hera foi esquecida, e seus feitos não se tornaram grandes canções para as futuras gerações. Em vez de trabalhar melhor a personalidade dela, o filme tenta falar o que ela é, mas não se aprofunda muito.

A Guerra dos Rohirrim
Hera saindo na porrada (Imagem: Warner Bros)

Ela luta, ela é livre, ela é arisca. Isso que você descobre sobre ela nos primeiros minutos, mas não existe muito além disso, ao contrário de outros personagens do filme, como os irmãos de Hera e sua protetora, Olwyn.

Todos parecem ter mais a oferecer para a história do que Hera, o que é uma pena, já que a própria trilogia fez um trabalho bem interessante na construção de Éowin em As Duas Torres, que vai além de simplesmente “Ela quer ser guerreira, mas não deixam por ser mulher”.

Tudo é bastante superficial, fazendo com que outros personagens pareçam mais interessantes que ela.

Batalhas e animação 

A ideia de produzir uma nova história dentro do universo da Terra-média como uma animação é bastante interessante, já que o meio permite que ideias mais mirabolantes que custariam absurdos em um filme live action possam ser realizadas com mais facilidade.

Isso acontece em alguns momentos de Guerra dos Rohirrim, e o trabalho do estúdio Sola Entertainment entrega cenários belíssimos. Porém, ao mesmo tempo, o filme parece um tanto contido em relação à grandes batalhas, focando muito mais em lutas diretas do que grandes exércitos entrando em combate.

Guerra dos Rohirrim
Podia ter mais disso (Imagem: Warner Bros)

Confesso que isso me decepcionou um pouco, assim como a qualidade da animação em algumas cenas. Se os cenários são lindíssimos, em alguns momentos, a animação dos personagens não parece ter recebido o mesmo cuidado, parecendo algo feito com certa economia. Ao mesmo tempo, outras cenas, como quando Helm resolve deitar geral no soco, são muito bem feitas e mostram o valor da escolha de contar essa história por esse meio.

Uma boa diversão, mas não sem tropeços

No fim das contas, O Senhor dos Anéis — A Guerra dos Rohirrim é uma animação interessante e não deixa de ser emocionante, se você for fã da trilogia, ouvir o tema de Rohan tocando quando alguma batalha está prestes a acontecer.

A ideia de contar uma história que é apenas uma passagem nos livros não prejudica em nada e poderia facilmente ser um novo caminho para as adaptações de Tolkien, principalmente no formato de animação. Confesso não ter gostado tanto assim do fato de o filme ter sido criado nos moldes de um anime, até porque isso deixa ainda mais claro as falhas na produção, pois existem animações japonesas com qualidade bem superior ao que vemos na tela por aqui.

Mesmo assim, como eu disse, A Guerra dos Rohirrim desperta um pouco essa sensação de nostalgia e deve agradar bastante aos fãs de O Senhor dos Anéis. E ainda mostra que dá pra fazer ainda mais com as obras de Tolkien no cinema. É só querer.