Borderlands
(Imagem: Paris Filmes)

Borderlands ou “A gente já tem Guardiões da Galáxia em casa”

A ideia de uma adaptação de Borderlands para o cinema não é de toda ruim, mas existem alguns elementos que precisavam ser levados em consideração para que ela desse certo. Saber aproveitar o caos e confusão dos jogos na tela grande, assim como respeitar o lore e personagens que os fãs tanto gostam. E ser lançado há uns 8 anos atrás. Como não temos uma máquina do tempo e Eli Roth fez o que bem entendia com o material que tinha em mãos, a versão cinematográfica de Borderlands só parece uma grande perda de tempo, até mesmo para os fãs mais empolgados da franquia.

Em um primeiro momento, a adaptação de Borderlands para os cinemas parece correta. Visualmente, tudo parece como deveria ser, com cores vibrantes e uma representação bastante fiel ao jogo. Só que basta com que os personagens se movam e comecem a falar para ficar com a impressão que Roth, diretor conhecido por filmes de terror como O Albergue e Feriado Sangrento, e que também é um dos roteiristas do longa, teve um contato bastante superficial com o material de origem e resolveu fazer tudo de qualquer jeito.

Borderlands
Se você só vê um frame, parece até legal (Imagem: Lionsgate)

Sabe aquela piada de “Parece que desenhou pessoa X de memória” quando falam de alguém que parece outra pessoa, mas ao mesmo tempo é completamente diferente? O filme de Borderlands é exatamente assim, mas ainda passando a sensação que a memória de quem fez é muito fraca.

História sem emoção, elenco deslocado

O filme de Borderlands pega uma ou outra coisa dos jogos para contar uma história que gira em torno de Tiny Tina, interpretada por Ariana Greenblat (Ahsoka e Barbie), uma garotinha que vive isolada no espaço e que acaba sendo “sequestrada” pelo soldado Roland, interpretado pelo comediante Kevin Hart.

O pai da garota, dono da empresa Atlas, contrata Lilith (Cate Blanchett), uma caçadora de recompensas para buscar Tina em Pandora, um dos planetas mais caóticos da galáxia. O planeta é conhecido por guardar a Arca, uma espécie de cofre para os segredos de uma antiga raça alienígena que sumiu há muito tempo atrás. Isso acabou atraindo um monte de malucos que buscam riqueza e poder.

Borderlands
Um elenco com grandes nomes, mas deslocado (Imagem: Lionsgate)

Note que, descrevendo assim, a história não parece muito distante dos jogos, que basicamente colocam um grupo de “Caçadores de Arca” em um planeta deserto e completamente caótico. O problema é que o filme parece ter sido escrito baseado no que alguém contou em uma mesa de bar para o Eli Roth e o roteirista Joe Crombie. Tudo é tão superficial que tirando os visuais e um ou outro easter egg, o longa se torna uma tentativa genérica de ser um novo Guardiões da Galáxia, mas “sujo” como um Esquadrão Suicida.

Boa parte disso vem da caracterização de vários dos seus personagens, que apesar de serem interpretados por nomes conhecidos, não se parecem muito com as figuras do jogo. Talvez com excessão de Jamie Lee Curtis no papel de Tannis, todos os outros atores estão deslocados em seus papeis.

Borderlands
Cate Blanchett poderia ser uma Lilith legal, mas… (Imagem: Lionsgate)

Cate Blanchett parece ter entendido que o filme não seria tudo aquilo logo de cara e, por isso, não se esforça muito para dar uma personalidade à sua Lilith. Ariana Greenblat não chega nem perto da energia frenética e caótica de Tiny Tina dos jogos, e ainda traz Krieg, vivido pelo ator Florian Munteanu (Creed 2), de brinde e de maneira meio solta na história. Você só aceita ele ali como um porradeiro e é isso.

Kevin Hart como um astro de ação é algo que simplesmente não funciona, e nem digo isso pela estatura diminuta do comediante. Ele não tem porte de soldado, a personalidade dele no filme é diferente de Roland dos jogos e em momento algum passa a impressão de ser um guerreiro competente.

Borderlands
Não dá (Imagem: Lionsgate)

Jack Black como Claptrap é uma das escolhas que mais me deixou indignado porque era muito mais fácil contratar o dublador atual do personagem nos games e correr para o abraço. Fica muito a impressão que o ator foi escolhido pra fazer alguma graça durante o período promocional do filme, se mostrando uma participação bem diferente da vista no seu trabalho no filme do Super Mario.

Chega a ser impressionante como todo mundo foi parar nesse filme sem combinar direito com os personagens que estão interpretando.

Ação e comédia pra quem nunca viu ação ou riu na vida

Eu poderia falar que Borderlands é um filme que não respeita muito o material original, mas pelo menos é engraçado e traz ótimas cenas de ação. Só que isso me faria um mentiroso e isso é feio demais.

Borderlands é bastante conhecido por ser uma série de jogos caóticos e com um senso de humor absurdo, muitas vezes juvenil, mas válido. Isso poderia funcionar muito bem nos cinemas, mas tanto a ação quanto o humor são muito fracos na adaptação.

Um monte de desperdício (Imagem: Lionsgate)

Os momentos mais empolgantes do filme estão todos no trailer (esquisito). Momentos que poderiam ser bastante empolgantes acontecem e não conseguem gerar qualquer tipo de reação. Isso sem levar em consideração os efeitos especiais bastante inconstantes, parecendo bem feitos em uma cena e ruins na sequência seguinte.

Nenhuma das piadas de Borderlands funciona de verdade. Não chega nem ao menos ser uma questão de gosto, mas sim de bom senso. Você percebe que alguma cena ou fala foi colocada ali para gerar risadas, mas são raros os momentos em que as pessoas da minha sessão deram aquela risada tímida, que sai só um arzinho, em todo o filme. A adaptação simplesmente não funciona!

O filme, mais uma adaptação produzida por Avi Arad, de Uncharted e dos futuros Metal Gear Solid e The Legend of Zelda (pelo amor de Deus!), traz uma marca registrada de vários longas do produtor: ela parece ter sido feita com um atraso de, pelo menos, uns 8 anos.

Tudo parece datado e tomando liberdades completamente desnecessárias que acabam descaracterizando o material original. Se Uncharted, mesmo com seus vários problemas, ainda pode ser considerado um filme de “Sessão da Tarde” bastante ok, Borderlands se mostra apenas uma oportunidade perdida que demorou tempo demais para chegar aos cinemas. Uma pena.

PS e meio spoiler: mesmo colocando umas músicas manjadas em cenas de ação, os caras nem pra colocar Ain’t No Rest for the Wicked na trilha do filme. Até nisso eles erraram!