Imagine que você está tranquilo com sua vida e conhece alguém. Esse alguém parece perfeito, vocês se apaixonam e tudo parece lindo, ainda que tenha algo um pouco estranho. Você tá feliz, mas uma reviravolta mostra a realidade da situação, que acaba por mostrar que a sua própria vida não é exatamente o que você esperava ser.
Falar sobre Acompanhante Perfeita, filme que que chega aos cinemas no dia 6 de fevereiro, é estranho porque é uma história que eu realmente gostei, mas ao mesmo tempo, gostaria que todo mundo assistisse completamente “no escuro”.
Caso você não tenha assistido ao filme ainda, se caiu de paraquedas aqui nesse texto em algum momento e não sabe nada sobre ele, vou falar aqui para evitar qualquer problema: Acompanhante Perfeita é um dos filmes mais divertidos e legais do começo de 2025, entregando muito mais do que se esperava. Confia.
Agora, se você já assistiu ou simplesmente não se importa, talvez eu possa falar um pouco mais sobre o que eu achei e sobre o filme em si, assim como a divulgação que entrega um pouco demais antes da hora.
Ninguém é perfeito
Acompanhante Perfeita conta a história de Iris, interpretada por Sophie Thatcher, de Yellowjackets, e Josh, interpretado pelo Jack Quaid, de The Boys. Após se conhecerem do jeito mais bobo de comédia romântica, os dois começam a namorar e tudo parece perfeito.
Iris parece viver para agradar o namorado, inclusive aceitando passar um fim de semana com os amigos dele em uma casa isolada. Uma das amigas do cara parece odiar a garota completamente de graça, as outras pessoas tratam ela meio esquisito, e tudo é bastante gratuito.
A primeira meia hora de filme mostra que ela só quer ser uma boa namorada pra um cara que parece ser meio babaca, com uns amigos que têm a mesma vibe dele.
Quando a Iris, tentando se defender, acaba matando alguém, tudo parece que vai desandar e de fato desanda, mas de um jeito inesperado. Isso porque Iris não é uma pessoa real, mas sim um robô.
Tudo o que foi mostrado antes, como eles se conheceram, o seu relacionamento, tudo era uma mentira. Iris é um robô alugado para fazer companhia para um cara solitário. Ela é, basicamente, um sexbot que tem seu sistema desbloqueado pelo Josh, fazendo com que a trava de causar mal a um humano fosse apagada.

O filme é construído de uma forma para que essa revelação junte todo os detalhes anteriores que parecem esquisitos façam sentido. É lógico que a galera vai tratar ela diferente, já que eles sabem que Iris é um robô e basicamente uma “coisa” para o Josh.
É um elemento que abre bastante a história do filme e como ela é contada, mas que infelizmente, foi revelada no trailer final de Acompanhante Perfeita, tirando essa surpresa para boa parte do público que vai assistí-lo nos cinemas.
O teaser trailer, que você vê aí embaixo, é perfeito por não contar quase nada sobre a história, jogar umas cenas muito estranhas e te deixar interessado por mais.
Já o segundo trailer, conta muito mais do que deveria, assim como o pôster de lançamento, e faz com o primeiro ato do filme e a sua reviravolta não tenham tanto impacto como deveriam.
Comédia, sangue e gente cretina
Mesmo assim, Acompanhante Perfeita acaba levantando do seu jeitinho alguns questionamentos muito interessantes, embalados na forma de um filme de suspense com pitadas de humor ácido que acabam funcionando muito bem.
Iris acaba fugindo do grupo com o celular de Josh, que tem o app que pode configurar todo o seu sistema, que vai desde a cor dos seus olhos e tom da sua voz, até o nível de inteligência dela.

Quando Josh revela que Iris é um robô e conta exatamente como eles se conheceram, toda a fachada de “namorado perfeito”, mas que ainda parece meio babaca, mostra que na verdade ele é bastante babaca.
Isso acaba fazendo com que a fuga de Iris, agora totalmente no controle de quem é, se torne uma tentativa de simplesmente existir contra pessoas que querem dominá-la.
Existe ali, de maneira às vezes sutil e outras nem tanto, uma crítica em relação a maneira como mulheres são vistas por parte da sociedade, como se tivessem a função de apenas agradar, sem ter qualquer escolha.

Jack Quaid, com sua cara de bom moço, faz muito bem o papel de um absoluto cretino que a cada nova cena vai revelando sua verdadeira face, a de um cara amargurado, que acredita que o mundo deve algo a ele.
O filme consegue equilibrar bem o suspense com humor, e conforme Josh vai mostrando mais quem é e o que é realmente capaz de fazer, as coisas vão ficando mais sérias para Iris.
Sophie Thatcher, que eu conhecia de uma meia dúzia de episódios de Yellowjackets e da lamentável O Livro de Boba Fett (ela aparece pouco, nem dá pra colocar na conta dela a ruindade daquela série) me surpreendeu por entregar uma atuação que poderia simplesmente cair para o lado da “mocinha bonitinha tentando sobreviver em um filme de suspense/terror”, mas que tem muito mais nuances e camadas do que está fazendo.

Duas cenas me chamaram atenção na atuação dela, uma é quando ela descobre exatamente o quanto de inteligência Josh tinha configurado no seu sistema e a outra quando eles se confrontam em uma mesa de jantar. Na primeira, apesar de ser uma cena que usa um pouco de humor em cima de algo absurdo, é possível ver a decepção nos olhos da personagem, finalmente entendendo quem era o seu dono.
Já na segunda, quando Josh deixa de fingir ser um “cara legal”, a atriz novamente fala mais do que está no roteiro só com os olhos, deixando toda a situação mais tensa do que já é.
Acompanhante Perfeita é doideira, mermão

Acompanhante Perfeita é um ótimo e surpreendente filme que, além de trazer um elenco bastante interessante, consegue equilibrar bem suspense, violência, humor, levantando temas bem interessantes e mais profundos do que se esperava.
Ainda acredito que a experiência de ver o filme sem saber muito sobre ele deixaria o longa ainda mais impactante, mas mesmo assim, ele consegue ser divertido e válido.