Imagem: Warner Bros

Superman e um novo mundo de possibilidades

Nunca me entendi com um personagem como o Superman. Li boas histórias, mas muitas delas colocam o Último Filho de Krypton como um ser superior. Em algumas vezes, isso funcionava muito bem (como Reino do Amanhã), mas em outras, isso distanciava um pouco o herói, por mais que não existisse algo de muito errado com ele.

No cinema, tivemos a versão com Christopher Reeve, que se tornou icônica, seguida pelo Brandon Routh, que não teve muita chance de ir além de uma reverência ao Reeve. E aí temos Henry Cavill, que ainda acredito que tinha potencial pra ser um ótimo Superman, mas aí trabalhou em filmes com gente que não entendia MESMO o personagem.

Porque depois de ver Superman, dirigido pelo James Gunn e estrelado pelo David Corenswet, finalmente eu consegui entender qual é o verdadeiro apelo desse personagem vindo de outro mundo: ele é tão humano quanto você e eu.

Começando na correria

Superman é o primeiro filme do “novo” DCU, mas não é a primeira produção dele. Antes, tivemos a animação da MAX (ou HBO Max, siga o seu coração) Comando das Criaturas e, tecnicamente, Pacificador menos a cena da Liga da Justiça. Já sabíamos que o Superman existia ali.

E o novo filme começa já escancarando esse novo universo, afirmando que há séculos o mundo conhece pessoas com poderes, os meta-humanos, e o Superman já se revelou ao mundo há 3 anos. E aí ele desaba no gelo. Não mostrar toda a origem do Homem de Aço e colocá-lo tentando e falhando já no seu terceiro ano em atividade consegue fazer com que essa versão do personagem seja mais próxima do público.

Superman
O mais humano dos heróis da DC (Imagem: Warner Bros)

Ele ainda consegue moer a Terra na base do soco, mas no fundo, é só um cara criado numa fazenda e com um coração imenso. Ele quer ajudar e não consegue ainda entender direito porque não pode só evitar que pessoas morram. Ele não está acima de assustar um ditador e ameaçar que o PAU VAI TORAR se continuar fazendo besteira.

E nada ali parece forçado. Você acaba acreditando que ele é aquele cara, que ele tá querendo ajudar, às vezes se irrita, se emociona, mas sabe bem quem ele é. Pelo menos, naquilo que ele acredita ser.

O trabalho do David Corenswet consegue captar exatamente o que o Superman deveria ser. O seu trabalho como Clark também funciona na maneira como essa dualidade é encarada pelos outros personagens.

Superman
Lois e o resto da redação do Planeta Diário (Imagem: Warner Bros)

O mesmo vale para a Rachel Brosnahan como Lois Lane. Ela é inteligente, ela é competente, ela não fica como uma mocinha em perigo, chegando a fazer parte da ação em dado momento de maneira que não parece forçada. Fora que a química entre ela e o Corenswet faz com que você acredite que Clark e Lois são um casal de verdade, ainda que estejam dando seus primeiros passos juntos.

Não dá pra confiar em calvo

Só que um herói só é tão bom quanto o vilão que ele enfrenta, e o Lex Luthor do Nicholas Hoult funciona mais do que eu esperava. Desde a sua primeira cena, ele mostra uma vontade insana de derrotar o Superman, no que aparenta ser um plano comum pra ganhar dinheiro, mas que vai se revelando ser algo muito mais profundo e viceral.

O ator, que inclusive fez teste pra interpretar o Superman, não conseguia me convencer em trailers e fotos da produção, mas no filme, essa loucura, essa gana de derrotar o herói acaba sendo bastante convincente. O mesmo vale pro lado mais “gênio maluco” do personagem, algo que acaba por levar o filme pra um lado que eu não esperava muito.

Superman
Lex e sua cabeça de ovo (Imagem: Warner Bros)

Superman é um filme que não tem vergonha de ser uma adaptação de quadrinhos. Ele não chega a ser esquisito em alguns aspectos como é o caso da trilogia dos Guardiões da Galáxia, mas o James Gunn não tenta “trazer aquilo pro mundo real”. Tem coisa esquisita que em um gibi você nem questionaria. Tem uniformes coloridos, um universo que já está acostumado com pessoas com poderes e segue sua vida normalmente.

Ele mistura fantasia, ficção científica e toda a doideira que os quadrinhos têm, criando uma “vibe” excelente pra esse novo universo. Até mesmo personagens que aparecem de relance, como Guy Gardner e seu cabelo ridículo, ou a Mulher-Gavião, estão legais e dão vontade de ver mais deles. Só que isso mostra uma das falhas do filmes.

Filme a 1000 km/h, mas com o freio de mão puxado

Superman é um filme sem vergonha nenhuma de ser estranho como os quadrinhos, leve e otimista, além de trazer boas cenas de ação e algumas boas piadas. Só que ele também passa uma sensação de que o James Gunn tava cabreiro.

Querendo ou não, Superman é uma grande aposta após o que a DC se tornou nos cinemas, e um fracasso poderia prejudicar a visão desse novo DCU. Então, é possível perceber que, apesar de alguns momentos em que o Gunn parece estar solto, ele mesmo se segura pra entregar algo “pra todo mundo”.

James Gunn, se solta (Imagem: Warner Bros)

Isso não chega a prejudicar o filme, mas faz com que ele tenha um ritmo, principalmente no seu segundo ato, um pouco embolado. As coisas ainda vão pra algum lugar, mas um pouco no tranco, fazendo com que alguns personagens e acontecimentos recebam menos atenção do que deveriam.

Um ótimo novo começo

Superman é um bom filme. Conforme estou lembrando dele, acho até que ele chega a ser ótimo. Tropeça em alguns momentos, mas entrega uma excelente versão do super-herói e apresenta um ótimo início para o DCU nos cinemas.

Eu quero ver mais desse Superman. Eu quero ver mais dessa Lois Lane, desse Lex Luthor, desse Jimmy Olsen. Desse Sr Incrível, Mulher-Gavião e até do Guy Gardner.

James Gunn pode não ter entregue um filme épico absurdo. Ele entregou exatamente o filme que o Superman precisava depois de tanto tempo. Agora, é só olhar pro alto e voar novamente!