Quem acompanha as estreias de filmes de terror provavelmente esbarrou com a campanha de marketing de Longlegs – Vínculo Mortal. Com vídeos que não explicavam absolutamente nada sobre a trama e escondendo a figura de um serial killer, o tal Longlegs, a campanha chamava atenção por ser genuinamente esquisita.
O filme chegou aos cinemas americanos no final de julho de 2024 e boa parte do que acontecia nele já havia caído na internet. Aquela mística sobre o que diabos era o filme parecia ter se perdido, pelo menos para aqueles que ainda buscavam saber mais sobre ele.
Talvez pelo fato de eu ter me recusado a pesquisar absolutamente qualquer coisa sobre o filme após o lançamento nos EUA, minha experiência ao assistí-lo pela primeira vez foi tão tensa e interessante.
Já sabia que Nicolas Cage, um dos atores mais imprevisíveis de Hollywood, interpretava o serial killer Longlegs, e tinha noção que o filme mostrava uma agente do FBI, vivida pela atriz Maika Monroe, tentando encontrá-lo antes que ele fizesse uma nova vítima. Saber disso é o suficiente para você encarar o longa de terror e provavelmente ter a melhor experiência possível, por mais que ele não seja o mais absurdo filme de terror dos últimos tempos que muitos vêm pintando.
Longlegs e seu mistério macabro
Longlegs conta a história de uma investigação que busca prender um serial killer que o próprio FBI não sabe direito como opera. Todos os casos são de famílias em que o pai mata a família e tira a própria vida. Em todos os locais dos crimes, é encontrada uma carta cheia de símbolos assinada apenas por LONGLEGS.
Em todos os casos, não é encontrado qualquer sinal de outra pessoa no local. É como se ele nunca estivesse lá. É nesse cenário que conhecemos Lee Harker, uma agente do FBI que é colocada no caso após sinais de o assassino ter reaparecido após anos sumido.
Toda a construção em torno do mistério de Longlegs (o assassino) é muito interessante, ainda que a personagem de Harker demore bastante para que você se afeiçoe. Existem alguns motivos para ela agir da forma como é mostrada, mas confesso ter ficado incomodado com a interpretação da atriz Maika Monroe, principalmente no primeiro ato do filme.
Conforme o filme avança, a personagem parece começar a se soltar mais e, sendo os olhos do público, passa a funcionar melhor, muito por conta da atriz, então considero que aquele começo meio esquisito tenha sido premeditado.
Outro elemento que me pegou um pouco de surpresa é que existe muito mais por trás de Longlegs do que a busca por um serial killer. Se você observar bem desde o começo, consegue pegar algumas dicas, até porque o filme deixa tudo bem claro para quem quiser ver, mas gostaria que ele tivesse ficado mais próximo da investigação em busca de um sujeito muito esquisito.
Nicolas Cage vale o filme
O que me leva a falar de Nicolas Cage. O cara é um dos melhores atores de Hollywood há décadas, mas tem um sério problema para escolher seus papeis. Existe a piada que o Cage está fazendo um experimento em que simplesmente fala SIM para todos os filmes que são oferecidos a ele. Pode ser ruim, pode ser excelente. Ofereceu, ele tá lá.
Isso nos entrega produções deliciosamente ruins, como O Sacrifício, e outros filmes realmente bons, como Mandy e Pig.
Longlegs se encaixa nesse segundo grupo, usando aquele jeito exagerado do ator para construir uma das figuras mais estranhas, perturbadoras, assustadoras e, em alguns momentos, até engraçada.
Toda vez que o Cage tá na tela, a voz dele, a maneira de se mover, tudo nele causa uma sensação de incômodo e funciona tão bem em criar o clima do filme. O fato de muitas vezes ele aparecer somente de relance cria uma estranheza sem igual. É realmente impressionante como o diretor Oz Perkins conseguiu usar o estilo de atuação do Cage pra criar esse personagem.
Você não quer ver ele na tela, ao mesmo tempo que se sente atraído para ver mais dele. É um trabalho realmente incrível e que faz todo o filme valer a pena.
Quase tudo funciona como deveria. QUASE
Longlegs começa como um filme realmente interessante sobre a busca por um serial killer, mas em dado momento, acaba enveredando para um lado mais sobrenatural que acaba tirando um pouco o peso de várias cenas. O filme ainda funciona, já que essa mudança não vem do mais absoluto nada, mas o clima que ele vinha criando antes disso parecia mais interessante do que de fato vemos na tela na segunda metade.
Claro que isso é muito pessoal, no sentido que eu meio que criei um filme que não é exatamente o que acabei vendo na tela, mas definitivamente é uma escolha que eu ainda não sei se consigo abraçar tão bem como deveria.
Mesmo assim, é inegável que Longlegs é um filme extremamente tenso, com um clima sombrio que muitas produções tentam aplicar, mas acabam apenas sendo desinteressantes. O filme de Oz Perkins consegue segurar a atenção do espectador desde a primeira cena, e mesmo tomando algumas decisões que eu não concordo completamente, eu estava lá até o momento que os créditos começaram.
Longlegs é um filme interessante, que de fato me assustou em alguns momentos, algo que considero raro, e que me deixou ansioso para ver o que mais o diretor pode fazer no futuro. Isso e me lembrar que Nicolas Cage bochechudo é perturbador!