Quando Gladiador estreou em 2000, eu tava com quase 14 anos e vi pela primeira vez um épico daquele porte no cinema. Já tinha visto filmes similares em casa, com meu pai, mas presenciei algo realmente impressionante na tela grande pela primeira vez, pois esse tipo de filme tinha sumido dos cinemas na época.
Eu já conhecia o Russell Crowe por Los Angeles: Cidade Proibida, mas fiquei impressionado com ele no papel do general romano Maximus Decimus Meridius e sua jornada de soldado, para escravo e depois gladiador. Eu nunca tinha visto algo com o Joaquin Phoenix e achei o cara incrível como o imperador Commodus. A recriação de Roma e do Coliseu passavam uma sensação de grandiosidade que minha mente adolescente nunca tinha visto antes.
Você deve estar se perguntando “Tá, mas por que você tá falando do primeiro filme se eu quero saber do segundo?”. Pois bem, é preciso levar isso que eu disse em consideração pois, apesar de ter gostado de Gladiador 2, ele não chega nem perto do impacto do primeiro filme. Eu explico.
Fugindo do seu destino
Desde a estreia do primeiro filme, surgiram rumores sobre uma possível continuação, o que considerando o final de Gladiador, não fazia muito sentido. Existiu um roteiro, escrito pelo cantor e compositor Nick Cave, que era completamente maluco e muito interessante, que seguia a alma de Maximus até os dias de hoje. Pois é, pura doideira e nem é difícil de encontrar esse roteiro na internet se você se interessar.
Os anos foram passando, os épicos voltaram aos cinemas e Gladiador ficou lá, com seu Oscar de Melhor Filme como lembrete que ajudou a puxar de novo essa cordinha. Quando o Ridley Scott finalmente resolveu fazer o filme, optou por seguir diretamente a história do primeiro longa, mostrando um jovem que conheceu Maximus, acabou sendo levado para Roma e se tornou um gladiador em busca de vingança.
Se você viu qualquer trailer de Gladiador 2, vai ter percebido quem exatamente é esse jovem, interpretado por Paul Mescal, de Normal People e Aftersun, e esse é um problema do marketing do filme. O longa tenta transformar a identidade de Hanno, como ele é chamado na história, em algo misterioso, mas basta você saber ligar A com B pra matar a charada logo de cara.
Confesso que isso tira um pouco da graça do filme, já que a história se desenvolve para que isso seja uma grande revelação, mas acaba sendo apenas “Tá, quando vão descobrir isso pras coisas acontecerem?”.
O filme começa com uma grande batalha, com as legiões romanas, lideradas pelo general Acacius, interpretado pelo Pedro Pascal, tentando tomar uma cidade africana, onde Hanno vive com sua esposa. O resultado é óbvio e ele é levado como escravo, onde acaba sendo comprado por um dono de gladiadores, vivido por Denzel Washington.
Grandioso, mas não impressionante
Gladiador 2 se mantém em três linhas. A principal é a jornada de Hanno, seguida por uma trama com Acacius e a insatisfação do general e do povo de Roma com seus imperadores gêmeos, e uma trama que gira em torno de Macrinus, personagem do Denzel Washington.
Das três, a que se torna mais interessante é a de Macrinus, muito pelo trabalho do Washington, que parece estar se divertindo demais no papel. Enquanto as outras duas seguem em um ritmo bastante óbvio, a dele se desenvolve em um ritmo próprio e que acaba fazendo o espectador querer saber mais.
Isso acaba transformando a trama principal de Hanno e sua participação nos jogos do Coliseu algo divertido, mas pouco impactante. Mesmo tendo cenas de ação divertidas, Gladiador 2 não consegue impressionar tanto como o primeiro filme. Assistindo novamente ao longa de 2000, ainda é possível ficar empolgado com algumas cenas, como a primeira participação de Maximus no Coliseu. Personagens coadjuvantes desse núcleo eram interessantes.
Em Gladiador 2, as coisas são grandiosas, mas não chegam perto do impacto do filme anterior. Isso parece ser culpa do roteiro, que não traz cenas tão inspiradas como a lendária “Meu nome é Maximus Decimus Meridius”.
Ou pode ser um problema com Paul Mescal como ator principal. Mescal já mostrou mais de uma vez como é bom ator, mas ele não parece ser a escolha mais certeira do filme pelo simples fato de Ridley Scott não saber aproveitar a força dele. O ator brilha mais em cenas em que diz muito sem falar nada, tendo um estilo de atuação que não casa muito com o que o diretor deseja para o seu filme.
Isso faz com que, mesmo entregando uma atuação competente, seu Hanno não seja tão interessante como poderia ser. E nem pode ser comparado com a presença de tela de Russell Crowe no auge.
Agora estamos livres
Eu falei tudo isso e parece que eu odiei Gladiador 2, mas isso não é verdade. Apesar de não trazer algo de novo ao gênero, o filme é certamente um dos melhores longas de Ridley Scott nos últimos anos, após alguns tropeços do diretor. Como eu disse, suas cenas de ação são divertidas e a trama se desenvolve de uma maneira satisfatória, ainda que seja pouco surpreendente.
Denzel Washington claramente é o melhor ator do filme, se divertindo como poucos ali com o papel do ardiloso Macrinus. Atores como Joseph Quinn e Pedro Pascal, que em breve atuarão novamente juntos em Quarteto Fantástico, poderiam ter sido melhor utilizados, principalmente pela força que os seus papeis como Acacius e o Imperador Geta têm dentro da história.
Gladiador 2 é uma boa sequência e não é aquele tipo de filme que piora o anterior, pelo contrário. Deixa ainda mais incrível o trabalho de Scott e Crowe no começo dos anos 2000, mas ainda serve como uma boa diversão para o cinema.