O Conde de Monte Cristo — Um épico sobre trairagem e ranço

Meu primeiro contato com a história de O Conde de Monte Cristo não foi com o livro escrito por Alexandre Dumas, mas sim, aquela adaptação de 2002, estrelada pelo Jim Caviezel pré-Jesus e com um Henry Cavill jovem. Era uma adaptação obviamente com um pézinho em Hollywood, mas a história em si tava lá e eu fiquei impressionado com ela.

Eventualmente, li o livro e notei o quanto “o buraco é mais embaixo”com a história de Edmont Dantes e sua jornada de vingança contra aqueles que acabaram com a sua vida. A estreia de uma nova adaptação, dessa vez produzida na França e que chegou a ser um dos pré-selecionados pelo país para representá-lo no Oscar 2025 me deixou curioso. Será que essa seria a adaptação definitiva da obra de Dumas?

A vingança quase nunca é plena

Caso você não saiba do que se trata, O Conde de Monte Cristo conta a história de Edmond Dantes, um jovem marinheiro que acaba sendo vítima de inveja por parte de um grupo de homens que acaba destruindo sua vida.

O Conde de Monte Cristo
Momentos antes da desgraça (Imagem: Paris Filmes)

Acusado de um crime que não cometeu, ele é preso no dia do seu casamento e enviado para apodrecer na prisão. Lá, ele encontra a salvação ao conhecer um preso que sabe sobre a existência de um tesouro que pode mudar tudo. Motivado com a possibilidade, ele sobrevive a anos de encarceramento e parte em busca de uma forma de encontrar o dinheiro e começar seu plano de vingança contra aqueles que foram contra a sua felicidade.

Esse é um resumo porco, mas que cobre basicamente o que é O Conde de Monte Cristo. Uma história impressionante que mostra que muitas vezes o maior combustível na vida de uma pessoa é ver quem te fez mal cair de queixo no chão. Não é o mais nobre dos sentimentos, mas certamente é um dos mais poderosos.

Conde de Monte Cristo
Pierre Niney em O Conde de Monte Cristo (Imagem: Paris Filmes)

Na nova adaptação, os diretores Matthìeu Delaporte e Alexandre de La Patellière, que também são os roteiristas, buscaram ser mais fieis à obra original do que a versão hollywoodiana mais conhecida do público atual, pintando Dantes como uma pessoa amargurada e pouco carismática.

Edmond passou por uma provação horrível e é uma vítima, sem sombra de dúvidas, simplesmente por ser uma pessoa boa e com coisas boas acontecendo a ele, mas o filme mostra como ao longo dos anos, a sua bondade deu lugar à amargura que o impedem de fazer outra coisa a não ser ver seu plano de vingança se tornar realidade.

A história de O Conde de Monte Cristo é uma das mais fascinantes da literatura e os diretores conseguiram adaptar pro cinema toda a inventividade e total força de vontade de ver o outro se lascar de Edmond, ainda que faça algumas mudanças sensíveis em relação à obra original.

Personagens acabam tendo seus destinos misturados aos de outros, talvez como forma de dar uma enxugada em tramas paralelas, mas que acabam funcionando na maneira como a história é desenvolvida. Mesmo assim, o filme chega próximo da marca das três horas de duração, mostrando que se colocassem mais coisas, talvez fosse melhor transformar tudo em uma minissérie, algo que não me deixaria triste pela qualidade da produção.

Elenco magnífico

O filme poderia perder força caso o seu elenco, e principalmente o ator que interpretasse Edmond Dantes, não conseguisse mexer com o público. O ator Pierre Niney faz um trabalho incrível no papel principal, mostrando a transformação de um jovem cheio de sonhos e esperança em um homem amargurado, que mesmo se importando com algumas pessoas, ainda parece ter sido destruído e substituído por uma máquina que tem apenas a vingança como objetivo principal.

Seu amor por Mercedes, interpretada pela atriz Anais Demoustier, ainda queima, assim como a vontade de ver o trio de homens que o traiu sofrer como ele sofreu.

O COnde de Monte Cristo
Anamaria Vartolomei como Haydée (Imagem: Paris Filmes)

O filme ainda traz no elenco a figura de Haydée, uma jovem que ajuda Edmond em sua vingança. Presente na obra original, a personagem, interpretada pela lindíssima atriz Anamaria Vartolomei, é mostrada de uma forma diferente na trama do filme e que acaba gerando um dos poucos momentos em que o Conde de Monte Cristo ainda demonstra certa humanidade.

Conclusão

O Conde de Monte Cristo é um excelente filme, um épico que consegue adaptar a obra de Alexandre Dumas sem perder a sua essência. Confesso que a longa duração do filme tiram um pouco da força do terceiro ato, principalmente por toda a introdução da história e preparação de vingança serem tão interessantes.

É um filme que certamente fica entre as melhores adaptações do livro de Dumas e que demonstra, mais uma vez, a força do cinema francês em entregar um longa que não deve em nada às grandes produções de Hollywood.