Lost: …o Fim

O Fim. Quando o Borbs, ainda no Judão, perguntou se eu poderia fazer um texto sobre o final de Lost, eu fiquei pensando em como fazer isso. O episódio final ainda não havia ido ao ar, e pensei em recapitular o que tinha acontecido até o derradeiro desfecho da série, sempre recheado de spoilers.

Mas então eu assisti o episódio.

Eu vibrei, fiquei feliz, gritei em alguns momentos e desabei no final. Por isso que daqui pra frente, vou falar aleatoriamente, até chegar em como diabos tudo aquilo terminou. E sim, spoilers pra cacete de montão vão jorrar aqui. Se você não assistiu ao episódio, o que caralhos você está fazendo lendo comentários sobre ele?

The End foi talvez um dos episódios mais emocionantes que eu já vi numa série de TV. Porra, foi mais emocionante que muito filme que eu já assisti. Uma coisa que eu achei absurdamente foda foi a evolução do Jack. Por pelo menos 5 temporadas, o mundo o odiava. Eu o odiava.

Ele tinha aquele ar de “Sou herói, logo sou melhor que vocês”, e isso de fato irritava. Ele tinha seus conflitos, mas esse jeito de ser dele dava MUITO nos nervos. Enquanto pra muitos ele ainda era um bostolão, pra mim isso mudou no season finale da terceira temporada, quando aquele puto que tinha tudo sob controle surta ao ouvir as possíveis mortes de seus companheiros, e arrebenta o Ben na porrada.

Dali pra frente eu comecei a respeitar o cara. Esse respeito foi aumentando conforme ele assumiu o posto do falecido John Locke, que culminou nele se voluntariando para se tornar o protetor da Ilha.

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E então, no último episódio, os roteiristas não só conseguiram “salvar” o personagem para todo mundo, como pra mim, ele se tornou, ao lado do Locke original, o mais fodão de todos. Sim, é isso aí, Jack é melhor que o Sr Eko, que inclusive eu ainda não entendo o porque de tanta babação de ovo em cima do personagem.

Como Jack se tornou um fodão? Duas cenas. Quando ele encontra o Falso Locke já como protetor da ilha e manda que vai junto com ele até a luz, porque chegando lá, ele vai fazer algo pra matá-lo. A reação dos outros personagens ao diálogo mostram que o doutor abraçou de vez o seu destino, e não sente mais medo em seguir até o fim.

E a outra cena é a do penhasco. Eu gritei um “PUTA QUE PARIU, AGORA VAI!” quando eles correram. Quando o Jack gritou “LOOOOOOOCKE!”, não teve como não se empolgar com aquilo.

E eu cheguei a ler gente falando que a luta não foi épica o bastante. Provavelmente eles estavam esperando um balé estilo Matrix, mas aquilo ali foi um médico e um ser aprisionado num corpo já mais velho, lutando pela própria vida.

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Mas e o resto dos personagens? E a realidade alternativa? Eu poderia discorrer sobre eles, mas seria sacanagem tirar o gostinho de assistir a tudo isso.

Conversando com amigos logo após o término do episódio, eu meio que entendi qual era a do final, que criou tanta polêmica, como já era de se esperar. E quer saber? Eu achei perfeito. Porque no seu final, Lost mostrou que não era uma série sobre uma ilha especial e todos os mistérios que faziam dela aquele lugar tão interessante. Tudo aquilo era só o cenário para que nós pudéssemos acompanhar a vida daqueles personagens.

Talvez essa fosse a intenção inicial dos criadores da série, e por isso sempre rolaram os flashbacks (e depois flashforwards). Se Lost fosse sobre uma ilha caótica, o passado e razão das ações dos personagens seria contado de maneira superficial, pois não seria esse o foco que eles queriam.

Com o final da série, dá pra acreditar que tudo aquilo que aconteceu com eles provavelmente estava na cabeça dos criadores, mas toda a história da ilha, a Iniciativa Dharma, eram pra ser coisas que não precisavam ser tão explicadas, porque elas existiam apenas para dificultar o caminho de redenção daquelas pessoas e a união que eles formariam. Pessoas completamente diferentes umas das outras, mas que, em um momento de pura tensão, se mostram tão fiéis como uma família, ignorando todo o seu passado para formar uma nova persona perante os outros.

Só que a preparação de todos aqueles elementos misteriosos atiçou a curiosidade do público, que sempre pareceu querer saber mais sobre a ilha do que pra aquelas pessoas que caíram lá. Eu tenho culpa nisso, pois, por algum tempo, também pensei assim.

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Mas ontem, ao terminar de assistir ao episódio, eu serei sincero ao falar que chorei. Não porque explicaram (ou deixaram) de explicar coisas sobre a Ilha, ou porque viajaram no tempo, ou a explicação da outra realidade. Mas porque eu vi um final sensato e emocionante, ainda que extraordinário, para aquelas pessoas. Pessoas mesmo, pois após 6 anos, você meio que começa a se importar com eles, que deixam de ser apenas personagens em uma história. Eles começaram cheios de falhas, mas ali estavam, finalmente, prontos para seguirem em frente.

Viajando um pouco, diria que o Lost do título não era em relação ao fato deles estarem naquela ilha, mas sim do quão perdido cada um deles estava antes de chegarem lá. Nós apenas acompanhamos o caminho que eles seguiram para enfim se encontrar. Simples, e emocionante, do momento em que vimos um olho se abrindo, ao momento em que vimos ele se fechar.

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Texto originalmente postado no Judão.