Review: South of the Circle

Jogos focados na narrativa em vez de mecânicas mirabolantes de gameplay existem aos montes no mercado, mas poucos são aqueles com uma trama realmente interessante e com nuances suficiente para segurar a atenção do jogador. South of the Circle, novo jogo do 11bit Studios, responsável por títulos como This War of Mine, Children of Morta e Frostpunk, é um desses jogos, ainda que tropece exatamente no momento em que poderia se tornar algo realmente grandioso.

Com a cabeça nas nuvens

O jogo começa em 1964 e o jogador no controle de Peter. A situação é tensa, com o avião em que ele está caindo no meio da Antártida, com o piloto machucado e ele precisando encontrar ajuda. É nesse momento que o jogo mostra toda a mecânica que o jogador terá acesso em South of the Circle.

Durante diálogos, o jogador recebe pequenos avisos para apertar um botão, com alguns momentos apresentando mais de uma opção. Cada botão corresponde a um estilo de resposta, pendendo mais para um tipo de reação, como tímido, direto, esperançoso, etc. Inicialmente, isso é um pouco estranho, mas ao longo do jogo, você se acostuma com tudo.

South of the Circle

Tirando essa mecânica, South of the Circle é um imenso “walking simulator”, em que o jogador não encontra grandes desafios e foca apenas na história, o que não é ruim, já que aqui ela é bem escrita, além do visual minimalista/estilizado.

É nela que conhecemos melhor Peter, com transições bem feitas entre o horizonte branco da Antártida e cenas que colocam o personagem em Cambridge, onde é um professor. South of the Circle fica nesse vai e vem para explicar exatamente como Peter chegou ali.

Criando uma tese sobre a possibilidade de prever o surgimento e trajetória de nuvens, Peter se vê em uma trama que envolve desde a sua criação com um pai autoritário, até o crescimento do feminismo na década de 60 e a crescente sombra da Guerra Fria.

Tudo isso é tratado de maneira bastante interessante e fluída, já que você acaba se interessando cada vez mais com os personagens, fazendo com que o gameplay (ou a falta dele) fique em segundo plano e o título se torne muito mais uma história interativa.

No controle, mas só um pouco

A diferença aqui para outros jogos em que você escolhe o destino do “herói” através de diálogos é que South of the Circle tem uma história bastante linear e que não apresenta grandes mudanças baseadas nas suas escolhas.

Por apresentar opções que alteram muito mais a maneira como o personagem reage, mas não exatamente os acontecimentos em torno deles, South of the Circle é muito mais um experimento comportamental em que você fica no controle de um desenvolvimento de personagem, mas não da história.

Isso é bastante interessante e poderia mostrar maneiras diferentes de ver os mesmos acontecimentos, mas o jogo não tem muita vontade de fazer isso, apenas seguindo em frente, o que não chega a ser um problema. Pelo menos até o seu terceiro ato.

Sem entregar spoilers, o terceiro ato do jogo acaba trazendo alguns questionamentos interessantes referente a sexismo, relacionamentos e política da época, mas tudo é concluído de uma forma que não apresenta uma resolução forte o suficiente para fazer com tudo valha a pena. Tudo meio que acaba de um jeito que deixa bastante a desejar, o que é uma pena, já que a experiência como um todo é bastante intrigante.

A impressão que fica é que, ao tentar entregar algo que deixa muito aberto para interpretação, South of the Circle peca, não entregando um encerramento emocional adequado à história que queria contar.

Mesmo assim, seja pela sua proposta ou pelo seu visual muito legal, é um game e uma equipe de desenvolvedores que merece cada vez mais atenção.

South of the Circle foi avaliado no PlayStation 5, com código cedido pela publisher