Bloodborne: um caso de amor e ódio

Você acorda em uma maca sem saber direito onde está. Tá escuro pra cacete e você começa a explorar o ambiente. De repente, percebe que tem um bicho aparentemente BANQUETEANDO as tripas de algum sujeito. Você não tem uma arma pra usar, mas resolve ir pra cima do animal. Toma um cambau e morre.

Você aparece em um jardim e encontra armas no chão. Milagrosamente, você consegue voltar para o ambiente escuro onde pereceu há pouco. Agora você pode derrotar o animal. Com um pouco de jeito, você sai vitorioso. Aquela sensação de que tudo é possível invade o seu ser, só pra logo no próximo encontro com um inimigo, você tome três porradas e morra.

De certa forma, os primeiros momentos de Bloodborne, jogo da From Software exclusivo para o PS4, prepara o jogador pra tudo o que ele tem para oferecer. A grande sacada do jogo é fazer com que você acredite ser capaz de sair arrebentando todo mundo na porrada, só pra mostrar que você é um verme e ainda não consegue fazer nada.

Te dando tapa na cara e rindo

Bloodborne poderia ser apenas um jogo difícil que te faz vontade de falar “DANE-SE” e nunca mais colocar pra rodar no videogame. Só que a From Software conseguiu criar um negócio tão LEGAL que fica difícil você largar.

Particularmente, eu nunca gostei muito dos jogos da empresa. Desde Demon’s Souls, aquela coisa de “VAMOS FAZER UM JOGO DESGRAÇADO DE DIFÍCIL” nunca me agradou muito. O fato de que toda vez que eu resolvia tentar alguém falava “Lê umas wikis aí pra entender melhor como funciona” me deixava puto o suficiente pra largar mão.

Se eu tenho que ficar lendo uma porrada de sites feitos por fãs para entender o jogo, eventualmente eu vou mandar ir se lascar e falar que poderiam ter feito um negócio melhor pra todo mundo (Destiny, estou olhando para você).

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Só que rolou uma bruxaria em Bloodborne porque eu acabei fazendo exatamente isso. Em dado momento, eu percebi que estava lendo uma wiki do jogo. Não para saber como matar um dos chefes desgraçados, mas pra entender alguns pontos da história (que não é das mais claras do mundo).

Eu realmente não consigo falar exatamente o que mudou em Bloodborne em relação aos jogos anteriores da série Souls. Não sei se foi a melhora nos controles, nos gráficos mais bonitos (o jogo é bonito PRA CACETE), mas tem algo ali que me prendeu de uma maneira que eu só conseguia pensar “Me odeio por estar gostando tanto desse negócio”.

A fina arte de fazer você se sentir invencível (e te quebrar as pernas em seguida)

Como já deu pra ver lá no começo, Bloodborne é um jogo bem desgraçado. Do tipo que você se odeia por amar, já que ele faz questão de te fazer de otário sempre que pode.

O game tem uma dificuldade absurda, mas que, ao mesmo tempo, te dá todas as oportunidades possíveis para você conquista-lo. Parece algo besta, mas o jogo te dá as ferramentas necessárias para você ficar mais forte e também perceber como destruir os inimigos.

Só que por estarmos condicionados a sempre achar que, ao conseguir matar um tipo de inimigo, todos os outros serão facilmente derrotados, vamos pra frente sem o devido respeito. Bloodborne faz com que você lembre que todo mundo pode te mandar no jogo. TODO MUNDO.

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Isso faz com que você deixe de colocar a culpa das suas falhas no jogo e sim nas suas ações dentro dele. “Morri porque esse jogo é um lixo” é substituído por “Morri porque EU sou um lixo”. Essa mudança acaba por fazer com que cada inimigo mais forte derrotado seja um acontecimento digno de alegria. Você está realmente melhorando e não só avançando cegamente por cenários.

Primeira vez que não saber o que acontece não me irritou

Se tem uma coisa que me deixa lazarento da cabeça é jogo que tem preguiça de contar a história. “Ah, mas se você ler os documentos que encontra saberá mais do jogo”. BULLSHITAGEM. Não me faça parar tudo pra ficar lendo a parada dentro do negócio. Me conte a história conforme eu avanço. Pode ser de maneira “enigmática” mas não venha com essa de “livrinho ingame conta tudo”.

Eu sei que tem gente que engoma a zorba com esse tipo de coisa, mas me irrita de verdade. Bloodborne tem disso, mas ao contrário de toda uma porrada de jogos assim, ele não me irritou. O pouco que ele te mostra por meios mais convencionais é o suficiente pra você, pelo menos, seguir em frente.

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Durante boa parte da campanha, eu sabia que a cidade tava toda zoada, tinham uns monstros, você era um caçador, provavelmente rolava uma maldição com o seu personagem e alguma merda vai acontecer. Com calma, você descobre que existe uma fascinação de todos por sangue, como ele serve pra tudo, mas você realmente não PRECISA saber disso.

Bloodborne conseguiu me fazer lembrar de jogos antigos que te davam uma desculpa vagabunda pra sair matando todo mundo. E isso foi lindo, já que eu tomei pra mim que o objetivo ali era matar tudo o que se movia na minha frente.

Como eu falei antes, o jogo me fez entrar em wikis por livre e espontânea vontade para saber mais sobre a sua trama e personagens. Ele consegue te dar o suficiente pra você ficar interessado nele. Com o tempo, você quer saber mais sobre ele e aí sim vai atrás de informações. O equilíbrio foi encontrado. Não fica aquele esqueminha pau no rabo de “Tem nada aqui. Tudo nos livrinhos”. Ódio!

Amo odiar. Odeio amar

Bloodborne é o tipo de jogo feito pra eu odiar. Ele tem tudo o que me irrita num videogame, mas por causa de alguma bruxaria, falha na Matrix, sei lá o que, eu não conseguia parar de jogar até chegar no final.

Teve períodos em que eu deixava ele de lado por um ou dois dias, mas não entrava em mais nada. O foco tava nele, porque acabou se tornando uma questão de honra chegar até o final dele. E eu cheguei. Devo admitir que achei o final um tanto quanto sem graça, mas tá valendo. A jornada foi legal.

Eu tinha tudo pra odiar Bloodborne. A cada chefe derrotado, eu só conseguia pensar “Que jogo desgraçado. Preciso jogar mais”. No final, eu me tornei um fã de Bloodborne. Eu ainda queria que todo mundo envolvido na sua produção tomasse um tapa (só um) por fazer um jogo desgraçado assim, mas depois recebesse um abraço.

Um abraço porque é um jogo tão legal que conseguiu mudar completamente a minha opinião em relação a esse tipo de game desgraçado. Não sei se vou ter a mesma paciência com novo Dark Souls ou sequer ter vontade de jogar os antigos títulos da From Software.

Pode ser que meu relacionamento com Bloodborne tenha sido uma anomalia. Só sei que uma bizarrice ou uma mudança na maneira como eu encaro esses jogos, sei que a From Software acertou a mão com vontade nesse título.

Você pode ter certeza que eu vou olhar o próximo jogo com muito mais carinho. E um pé atrás, porque eu tenho certeza que ele vai ser tanto ou mais desgraçado que esse.

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