Review: T2 Trainspotting

A tão aclamada onda de “falta de criatividade” que se abate sobre Hollywood resultou em uma enxurrada de remakes, adaptações de quadrinhos e continuações nos últimos anos. A mais recente delas é T2 Trainspotting, sequência do clássico que virou cult Trainspotting, de 1996.

Este filme era esperado pelos fãs há anos, décadas, quem sabe até desde que o primeiro estreou. Finalmente, ele chegou. E, para a alegria daqueles que já passaram horas diante da tela da televisão vendo e revendo todas as bagaceiras de Mark Renton e sua turma, a espera valeu a pena. Elenco original novamente sob a batuta de Danny Boyle fez despertar boa expectativas, que foram cumpridas de forma sensacional.

Em todos os detalhes, com uma direção impecável, um roteiro bem construído e uma trilha sonora tão marcante quanto a obra original, T2 Trainspotting consegue atualizar a perspectiva de seus personagens sem deixar aquela essência de lado. Seja na fotografia, na direção ou na música, a história se renova mantendo um pé há 20 anos, e isso é ótimo.

Passando o passado a limpo

Uma metalinguagem do começo ao fim, T2 Trainspotting está o tempo todo conversando com a película que o antecedeu. As referências ao que aconteceu há 20 anos estão por todo o lado, algumas mais claras, outras mais discretas (um fan service que funciona e não deixa o filme chato), sendo este um dos pontos altos da história.

O roteiro, baseado tanto em Trainspotting quanto em Pornô, ambos livros de autoria de Irvine Welsh, também é impecável. A história está bem amarrada, faz sentido quando retrata o futuro de quatro sujeitos sem futuro há duas décadas e adiciona uma dose pesada de humor dramático.

A profundidade dada a cada personagem também se sobressai. Os efeitos causados pelo desfalque dado por Mark Renton (Ewan McGregor) em seus comparsas guiam basicamente toda a película. Francis “Franco” Begbie (Robert Carlyle) e Daniel “Spud” Murphy (Ewen Bremner) roubam a cena sempre que estão no quadro, enquanto Simon “Sick Boy” Williamson (Jonny Lee Miller) surge como a mais magoada das vítimas de Renton.

T2 Trainspotting relembra que o personagem de McGregor é o anti-herói que ninguém odeia. A obra cria um desfecho quase óbvio, mas nem por isso menos sensacional, para um grupo de sujeitos desconexos e atados entre si da maneira mais bizarra possível. Boas doses de humor e drama, histórias sem noção e um show de direção vão resultar em uma das sequências mais interessantes dos últimos tempos.

Quando o filme acaba e os créditos sobem na tela, você percebe que não havia outra possibilidade: Trainspotting precisava esperar 20 anos para ganhar a sua continuação, para ganhar esta continuação. Se você é fã há 20 anos da obra-prima de todos os envolvidos no projeto ou então se viu o primeiro filme antes de ontem, vá assistir à continuação. É imperdível.