Review: O Espetacular Homem-Aranha 2

Escrever sobre Homem-Aranha sempre vai ser algo complicado pra mim. Conversar comigo por 30 minutos vai mostrar que se existe algo pela qual eu sou fã até o fim, essa coisa é Homem-Aranha.
Se eu precisasse classificar todos os filmes já feitos em cima do personagem, eu diria que os colocaria na seguinte ordem:

Homem-Aranha 2 > Homem-Aranha > O Espetacular Homem-Aranha > Homem-Aranha 3

Eu tinha essa configuração até assistir a O Espetacular Homem-Aranha 2. Pode me chamar de fanboy ou o que quiser. O novo filme do Aranha é a melhor adaptação do personagem para o cinema, finalmente mostrando que ele não é só um apanhado de piadinhas, uns poderes legais e um uniforme malandrão.

O Espetacular Homem-Aranha 2 consegue mostrar o que realmente faz dele um herói, em um filme que mais parece uma história em quadrinho live action que outra coisa. E é falando do coração que eu vou explicar os motivos pelos quais eu gostei do filme.

Começando pela parte ruim

Serei curto e grosso: O Espetacular Homem-Aranha 2 não é um filme perfeito. Pronto, já tiro isso do caminho pra evitar encheção de saco. O longa repete alguns dos problemas do primeiro filme, como arrastar a trama sobre o paradeiros dos pais do Peter, criando um desfecho que só me traz a felicidade disso não ser mais um foco na sua futura sequência.

Max Dylon é bem meh nesse filme
Max Dillon é bem meh nesse filme

A maneira como Max Dillon, interpretado pelo Jamie Foxx, também poderia ser menos caricata, já que da maneira como é apresentada, não consegue apresentar muito peso para a trama. Por causa disso, geralmente nas cenas que trazem o vilão, o filme parece se arrastar um pouco. Pelo menos as lutas contra ele são absolutamente sensacionais. O que me faz falar sobre…

Um Espetacular Homem-Aranha de verdade

Apesar de achar Homem-Aranha 3 uma aberração, eu realmente guardo no coração os dois primeiros filmes do Homem-Aranha dirigidos pelo Sam Raimi. Talvez pelo que ambos representam pra mim e pra aquela época específica da minha vida, eu sempre vou tê-los em alto estima, mas nem por isso eles não apresentam todo o personagem que virou o meu herói favorito.

Apesar de mostrar bem o fato de que o Homem-Aranha pode ser qualquer um, trazendo algo de bom nas pessoas que o observam, muitos elementos do personagem sempre ficaram bastante em segundo plano naqueles primeiros filmes.

Com O Espetacular Homem-Aranha, isso começou a ser melhor explorado, graças ao Andrew Garfield, mas ainda faltava alguma coisa. Ele era só um adolescente que ganhou poderes e, por isso, era fanfarrão, mas um pouco arrogante. FAZIA SENTIDO ele ser daquele jeito, mas ele ainda parecia um pouco com um “Quase-Homem-Aranha”. Tava no caminho.

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Em O Espetacular Homem-Aranha 2, eu consegui ver aquele personagem na minha frente. Apesar de muita gente reclamar que “O Homem-Aranha não anda de skate/ele era nerd de óculos zoado por todos”, essa era a primeira versão do personagem.

Homem-Aranha (13)Ao longo dos anos, ele meio que foi se adaptando à época, chegando até a versão Ultimate, a que me fez voltar a ler quadrinhos. Ali, o Peter ainda sofria bullying, ele ainda era um nerd que se isolava, mas ele também era alguém com um senso de humor, com uma mente de alguém genial, mas que apenas não era popular.

Ao mostrar o Peter Parker dessa maneira, o Andrew Garfield e o diretor Marc Webb conseguiram trazer o personagem mais próximo do público da mesma idade.

No novo filme, isso consegue ser apresentado de uma forma que faz com que o Peter não pareça um estereótipo do que um nerd deveria parecer, como muita gente gostaria, mas sim uma pessoa real, que poderia estudar/trabalhar/morar na casa do lado. Isso é muito mérito do Andrew Garfield.

Um vilão à altura

Uma das coisas que mais preocupava os fãs do Homem-Aranha era a quantidade de vilões que seriam usados no novo filme. Primeiro era só o Electro, depois foi anunciada a participação do Rhino, interpretado pelo Paul Giamatti, e, para finalizar, Harry Osborn virando Duende Verde.

Ao terminar de assistir ao filme, é possível dizer que o filme tem apenas um verdadeiro vilão, e ele se chama Harry Osborn. O Electro do Jamie Foxx, como já mencionado acima, não tem muita profundidade, servindo mesmo para protagonizar algumas lutas legais contra o Homem-Aranha e talvez retornar em uma futura formação do Sexteto Sinistro, grupo já anunciado para o cinema.

Ainda bem que não colocaram um gordo de tiptop com chifrinho
Ainda bem que não colocaram um gordo de tiptop com chifrinho

O Rhino, por sua vez, aparece em um total de 5 minutos de filme, apenas aparecendo para o mundo e tendo a oportunidade de voltar em uma sequência.

É o Harry Osborn que realmente mostra perigo e ameaça, não só ao Homem-Aranha, mas também ao Peter Parker. Interpretado pelo ator Dane DaHaan, o personagem perde aquele ar de “perdido” dado pelo James Franco na primeira trilogia do Homem-Aranha e parece uma pessoa muito mais amargurada e que realmente poderia cair para o lado do “mal”.

Isso vai contra o que o personagem era nos quadrinhos, alguém que acabou se metendo onde não devia, mas aqui, essa mudança funciona. A amargura apresentada contra o pai, Norman Osborn moribundo (que aparece em UMA cena, mas eu quero acreditar que volta para o terceiro filme) mostra um pouco da formação dele como pessoa.

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Amigo de infância de Peter Parker, graças ao relacionamento profissional de seus pais, ele é enviado para um colégio na Europa, voltando anos depois, sem um relacionamento com o pai e prestes a assumir uma empresa de bilhões de dólares e descobrindo que, assim como Norman, carrega uma doença que pode matá-lo.

Tudo isso poderia ser uma receita para um drama besta, mas as cenas em que DeHaan contracena com o Andrew Garfield apresentam certa humanidade para o personagem, o que apenas torna o seu tortuoso caminho um pouco mais complicado, já que ele apenas quer sobreviver, fazendo o possível para conseguir isso e “perdendo a sua alma” no processo.

Tudo isso acaba criando um conflito na mente do Peter, mas isso tudo ainda parece mais um dia na vida de um super-herói, e tomado como verdadeiro foco do filme, parece realmente só mais um filme de gibi. Só que existem outros dois elementos que, se você parar pra pensar, realmente impulsionam o longa.

O amor e escolhas

Talvez o maior trunfo de O Espetacular Homem-Aranha foi ter a Emma Stone como a Gwen Stacy do Peter Parker do Andrew Garfield. É inegável a química entre os dois, que acabou indo pra fora e enfim.

Em O Espetacular Homem-Aranha 2, o Peter se sente dividido pelo amor que sente pela namorada e a promessa que fez ao pai dela, logo antes dele morrer. Ele luta contra essa escolha de ficar com ela, mesmo sabendo que isso pode trazer algo de ruim para ela.

Todas as cenas entre os dois são boas. Todas. Existe a possibilidade de que porque os dois realmente são um casal fora das telas, isso acabou sendo mostrado no filme, mas em todos os momentos em que vemos um pouco do relacionamento do Peter e da Gwen, você realmente acredita que eles se amam, e que cada minuto longe dela destrói um pouco mais com ele.

<3
<3

Conforme o filme avança e você se sente que esse distanciamento entre eles acontece e é inevitável, você acaba sentindo a mesma falta que ele. E tudo é construído de uma maneira que você vê a Gwen pelos olhos do Peter, sendo impossível não considerá-la perfeita e que nenhuma outra mulher no mundo conseguirá superá-la.

Nesse ponto, é necessário dar os parabéns à dupla e ao diretor Marc Webb, que mostra que quando o assunto é cena de romance, tem realmente a manha.

O outro elemento que faz o filme ser interessante é ele tentar abordar as consequências trazidas por nossas escolhas. No caso, cada um dos personagens têm um ponto de virada, em que poderiam ajudar um amigo ou não ajudar alguém, mas escolheu fazer isso, arcando com os acontecimentos que seguem.

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Pode ter sido proposital ou não, mas o tema da escolha corre durante todo o filme, seja através do pai do Peter, da Gwen ou do Harry. Todas as escolhas trazem algo em retorno aos personagens, dando muito mais peso às suas ações, que por mais insignificante que pareçam em um momento, são cruciais para o desacadeamento de acontecimentos importantíssimos.

Um blockbuster com coração

Você deve estar se perguntando onde a ação se encaixa nisso tudo? Apesar de Peter Parker ser muito importante, ainda estamos falando do Incrível Homem-Aranha (essa história de Espetacular foi bobice na hora de traduzir o nome do filme).

Desde a primeira cena com o herói, é possível dizer que essa é a melhor representação dele no cinema, seja pelo seu uniforme, pelos momentos em que ele passeia por Nova York, interage com todo mundo, cheio de piadinhas cretinas, ou nos momentos em que ele precisa lutar contra seus inimigos.

Pela primeira vez nos filmes, conseguimos ver como diabos funciona o “sentido aranha”, em uma cena impossível de não empolgar os fãs e quem mais assisti-la.

No quesito pancadaria, a impressão que ficou é que após o primeiro filme, cheio de cenas com efeitos especiais práticos, com dublês pendurados em cabos, o Marc Webb resolveu abraçar a ideia de que estava fazendo um filme de quadrinhos.

Durante as mais de 2 horas de filme, a impressão é que realmente estamos vendo uma HQ do Homem-Aranha, só que com atores no lugar de desenhos. Só que tudo isso poderia ser vazio se não fosse pelo fato de os personagem (ou pelo menos a maioria deles) ter uma alma.

O Peter ainda é um moleque que salva o dia, mas sofre pra ajudar a tia nas contas de casa. Em dado momento, é revelado que sim, ele já trabalha para o J.Jonah Jameson (que tem uma participação “interessante” e realmente fiel aos quadrinhos), mas isso não é o suficiente. Em uma cena com a tia May, é possível notar o quanto eles se importam um com o outro e como têm um vínculo eterno.

Inclusive, essa é uma das melhores cenas do filme, graças à atuação da Sally Field e do Andrew Garfield. Sem NENHUM efeito especial ou alguma cabriolagem louca, só duas pessoas conversando, e é impressionante. Em duas cenas, eles conseguem mostrar um relacionamento muito mais forte e realista do que o Tobey Maguire e a Rosemary Harris tiveram em três filmes.

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Os dois protagonizam outra cena, mais próxima do final do filme, que também mostra que apesar de mostrar explosões, choques e pancadaria frenética, O Espetacular Homem-Aranha 2 tem algo que até mesmo nas tão alardeadas adaptações do Marvel Studios não possuem no mesmo nível: alma.

Por exemplo, Capitão América 2: O Soldado Invernal é um puta filme. Diria que, como FILME, é até superior ao longa do Aranha, mas apesar de sua qualidade, ainda falta algo nele. Talvez seja essa tal alma.

Outro comentário digno: as cenas de luta de Capitão América 2 e de O Espetacular Homem-Aranha 2 deveriam se tornar modelo pra pancadarias de super-heróis, sejam eles mais pé no chão (como o Capitão) ou absurdos (como o Aranha). Sério.

Um herói não é aquele que só dá a porrada mais forte

Em vários momentos do filme, Peter Parker diz que acredita que o Homem-Aranha é necessário porque ele traz esperança ao povo. Apesar de parecer um pouco forçado, esse é um dos elementos que sempre me fez gostar tanto do Homem-Aranha.

Mesmo com seus fantásticos poderes, o Homem-Aranha ainda é um moleque (que depois ficou mais velho, mas o espírito foi sempre de pivete). Por sempre se mostrar assim aos olhos do público, ele cria uma conexão com o povo.

TASM2ImageEle não aparece apenas para socar bandidos ou salvar o mundo. Ele estará lá quando tentarem te roubar ou um gato ficar preso numa árvore. Muitos heróis agem de maneira parecida, mas só o Aranha parece fazer isso no seu dia a dia.

Por causa disso, ele passa a impressão de que sempre estará lá. Ele realmente traz esperança. O Espetacular Homem-Aranha 2 consegue mostrar isso de uma maneira muitas vezes direta, mas é em uma cena no seu final, com o peso de todos os acontecimentos, que torna essa mensagem muito mais forte.

Se você não me chamou de fanboy até agora (o que eu acho muito pouco provável), agora terá a sua chance. Nessa cena em questão, meus olhos marejaram. Porque nela, é representado o que, ao meu ver, é a essência do personagem, a essência de um herói.

Ele não é aquele que vai usar todo o seu poder pra rachar um mundo ou destruir uma cidade durante uma luta. Ele é aquele que dá coragem para um simples garotinho enfrentar algo terrível sem sentir medo no coração. Porque ele sabe que se precisar, ele não estará sozinho. O Amigão da Vizinhança sempre estará ali com ele. Porque é isso o que ele faz.

Esse é o Homem-Aranha.