Review: Homem-Formiga

Todo filme de super-herói é ridículo. Não tente negar. Por mais que a gente goste e sempre se empolgue, não é o tipo de coisa que dá para levar a sério. E a Marvel sabe disso, tanto que fez dessa piada sua marca registrada — algo que vem dando certo já há algum tempo.

E o que dizer do Homem-Formiga? Além de ter um nome bosta e um poder nada heroico, o personagem nunca teve nenhum momento marcante nos quadrinhos (além de bater na mulher) e exatamente por isso era considerado uma das apostas mais arriscadas do estúdio até aqui. Só que, assim como Guardiões da Galáxia, o que tinha para se tornar um belo fiasco se revela uma das produções mais divertidas da Marvel exatamente pela boa dosagem de ação, aventura e humor.

O segredo está exatamente na habilidade do filme de rir de si mesmo. Ele não se leva a sério e faz piada em cima disso o tempo todo, nos lembrando sempre do quão ridículo é aquele universo. Só que, ao contrário do que vimos com Chris Pratt e o Guaxinim de Trabuco, ele não é tão escrachado e, por isso, traz uma simplicidade diferente daquela que estamos acostumados a ver.

Rindo de si mesmo

A história de Homem-Formiga é basicamente aquilo que vimos nos trailers, com um Hank Pym já velhaco ajudando o ladrão Scott Lang a assumir o manto do herói controlador de insetos para impedir que seu velho pupilo venda a tecnologia de encolhimento para terroristas. Basicamente, é o roteiro do primeiro Homem de Ferro com algumas leves alterações aqui e ali.

Sério, qual o problema de vocês pra acharem que isso aqui é pra ser levado a sério?
Sério, qual o problema de vocês pra acharem que isso aqui é pra ser levado a sério?

Só que ninguém vai ao cinema esperando profundidade em um filme da Marvel e é por isso que a trama, apesar de bem simples, funciona. Há um foco muito maior nos personagens do que na situação como um todo e isso permite que cada um deles seja muito bem construído, incluindo os coadjuvantes. Todo o elenco de apoio é sensacional e rouba a cena sempre que aparece.

E o Scott Lang do Paul Rudd se encaixa muito bem nessa proposta por ser um dos heróis mais humanos desse universo cinematográfico da Marvel. Ele não veste o uniforme para salvar o mundo ou qualquer coisa assim, mas para limpar seu nome e poder voltar a ficar perto da filha. Não há um altruísmo e ele está lá no meio da zona toda porque é o que tem pra hoje.

Isso tira um pouco daquele clima épico que todos os demais filmes traziam, e é exatamente isso que o torna diferente e interessante. Não temos explosões para todos os lados e nem cidades caindo dos céus — isso, inclusive, acaba virando uma piada interna. É a típica história do herói por acidente, o que ajuda a criar uma identificação com o público e a dar o tom mais leve que satiriza a situação o tempo todo.

É tipo um Power Rangers, só que legal.

Essa capacidade que a Marvel tem de rir de si mesma acaba sendo o grande trunfo por aqui exatamente por conta dos poderes do Homem-Formiga. O diretor Payton Reed sabe brincar muito bem com a ideia de proporção e de usar isso a favor da piada que é o personagem. Ao mesmo tempo em que temos a tensão de uma batalha de vida ou morte entre o herói e o Jaqueta Amarela, temos um plano mais aberto mostrando que eles estão tentando não cair sobre um mosquiteiro elétrico.

As cenas de ação são muito boas, principalmente quando Lang começa a mudar de tamanho com mais naturalidade. Boa parte daquele conceito que Edgar Wright liberou lá atrás é utilizado de maneira que aquele poder não pareça mais tão zoado assim. O mesmo acontece com os momentos mais voltados à aventura, usando as formigas de maneira inteligente e sem parecer retardado. Chupa essa, Indiana Jones!

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É claro que temos algumas coisas que são apenas jogadas lá, como o próprio vilão que está lá só para ser mal e torturar uma ovelhinhas porque sim. A participação dos Vingadores serve apenas para criar um vínculo com o universo compartilhado — ainda que a cena em si seja muito boa — e já introduzir o Homem-Formiga dentro do contexto de Guerra Civil. Isso sem falar da solução final que está lá só para fazer a ponte com Doutor Estranho.

Não é brilhante, mas é divertido

O maior mérito de Homem-Formiga é exatamente chegar aos cinemas sem qualquer tipo de pretensão. Todo o marketing do filme já gira em torno da piada que é o personagem e isso, aliado ao fato de que todo mundo duvidava do potencial do longa, faz com que o resultado final seja uma bela surpresa. Como qualquer outra adaptação da Marvel, ele está bem longe de ser genial ou algo que vai mudar sua vida, mas vale pelo menos o preço do ingresso e da pipoca.

Com uma história simples, ele é o filme mais pé no chão do estúdio até agora e não há nada de errado com isso. Mesmo com seu começo um pouco lento — afinal, é uma história de origem —, o desenvolvimento em torno do carisma de seus personagens funciona e dispensa o clima épico que vimos em Homem de Ferro ou mesmo em Vingadores. É bom ver que nem todas as ameaças do universo da Marvel envolvem destruir cidades e que há problemas mais terrenos para lidar.

Talvez o maior desafio de Homem-Formiga seja mesmo a resistência de muita gente com o personagem. Como ele não é tão popular assim e nem tem grandes histórias, a internet não conseguiu colocar seu monóculo para ficar citando referências a cada cinco minutos e, por isso, foi obrigada a assistir ao filme, acabando com um pouco da “mágica” por trás dos filmes da Marvel.

Afinal, se o estúdio não se leva a sério, não tem por que você fazer diferente.

P.S: Sim, eles citam o Homem-Aranha. Podem comemorar!