Review: Ela André Luiz de Mello Pereira CinemaReviews 14 de fevereiro de 2014 Quando Ela (Her, 2013) foi anunciado, a ideia de um cara se apaixonando pelo seu sistema operacional parecia um tanto ridícula. Só que os nomes por trás do longa (o diretor Spike Jonze e Joaquin Phoenix) indicavam que talvez existisse algo mais no filme. Depois de pouco mais de duas horas de duração, é possível dizer que Ela é realmente muito mais do que a sua premissa. Bem mais. Uma história bizarra, porém que poderia ser real Theodore, personagem do Joaquin Phoenix, é um solitário. Ele trabalha em uma empresa que escreve cartas no lugar de outras pessoas e é muito bom fazendo isso. No caminho para casa, ele não fala com ninguém, se preocupando com seus e-mails e feeds. Em casa, ele gasta seu tempo jogando uma espécie de Kinect chupeta e pensando na vida. Vida esta que parece que ele apenas empurra de barriga, já que depois de sua esposa (interpretada pela Rooney Mara) ter o deixado, nada parece fazer muito sentido. É então que, em um belo dia, ele vê o anúncio de um novo sistema operacional, preparado com inteligência artificial. Após configurá-lo e escolher uma voz feminina, conhecemos Samantha (dublada pela Scarlett Johansson). Apesar de ser um sistema operacional, Samantha consegue evoluir, ganhando uma personalidade conforme o tempo passa. Essa personalidade acaba por encantar Theodore, que se apaixona por ela, que, por sua vez, retribui o sentimento. É tudo muito bizarro, mas a maneira como o Spike Jonze constrói a história faz com que tudo seja não só “normal” como muito compreensível. Um romance sincero Em diversos momentos, você acaba achando o romance entre Theodore e Samantha bonito, principalmente após ver que o cara está finalmente conseguindo ser feliz com alguém após ter sofrido com a sua separação. Como eu disse no começo, ele é um solitário, um cara que, mesmo tendo uma grande amiga (interpretada pela Amy Adams), ele ainda passa muito tempo sozinho. A sua vida parece ter entrado em um estado de completa paralisação. Com a entrada de Samantha, sempre presente pelo fato de ser um sistema operacional na nuvem, na vida de Theodore, as coisas começam a mudar para ele, já que o sujeito sente mais vontade de viver, graças à sua companhia. Eventualmente, isso acaba se transformando em um doce romance. Sim, doce romance entre um homem e um sistema operacional. A maneira como Joaquin Phoenix atua e como a Scarlett Johansson dublou a Samantha fazem o filme criar vida. Em momento algum você vê o relacionamento como algo absurdo, já que a forma como eles se relacionam é melhor que a vista em dezenas de filmes lançados todos os anos. Depois de meses se sentindo vazio, finalmente Theodore tem motivos para se importar, graças à Samantha. Os problemas de um relacionamento Como você já deve imaginar, problemas realmente acontecem entre Theodore e Samantha e a maneira como ele vê o mundo. Acho que uma das grandes sacadas do Spike Jonze (que além de dirigir, também assina o roteiro), é a de nunca mostrar o relacionamento como algo estranho. Pelo contrário, é mostrado que Theodore não é o único a manter um relacionamento (amoroso ou de amizade) com um ser de inteligência artificial. Isso se dá devido ao fato de os sistemas operacionais evoluírem e ganharem uma personalidade própria, o que deixa a história muito mais interessante. Em dado momento, você esquece que está vendo um relacionamento entre um homem e um computador, mas entre duas pessoas distintas. Ela consegue criar um questionamento sobre o que realmente é uma pessoa: sua forma corpórea ou seus pensamentos? Vale o ingresso? Ela é um filme que se contasse a história de um homem recém-separado, enfrentando a vida adulta completamente sozinho, conhecendo uma jovem e se apaixonando por ela, aprendendo a ser uma pessoa completa e conseguindo superar seus fracassos, poderia ser considerado “apenas mais um filme”. Só que Ela consegue ser mais que isso. O longa criado por Spike Jonze consegue emocionar pelo seguinte fato que cria um laço entre os personagens e o público, que pode ou não se identificar com a situação que vê na tela. O filme mostra que você pode ter alguém que te ajude a superar um momento difícil, que te faça sorrir, chorar, amar e sofrer, não importa se é com uma bonitinha que você conheceu no trabalho ou um sistema operacional. Nós só queremos ter alguém que realmente se importe conosco. No fim das contas, o sentimento será sempre o mesmo.