Review: Cinquenta Tons de Cinza André Luiz de Mello Pereira CinemaDestaquesReviews 12 de fevereiro de 2015 André Luiz de Mello Pereira Acho que a melhor maneira de começar a falar sobre Cinquenta Tons de Cinza é a seguinte: AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHHAAHHAAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHA. Sério mesmo, cara? Com isso já fora do sistema, é possível dizer que a adaptação do best seller de E.L. James é um filme muito, mas MUITO, sem sal. Faz sentido no esquema que cinza não é preto ou branco, ficando num meio termo genérico que dificilmente agradará aos fãs do livro ou aqueles que apenas estão curiosos para saber se é verdade que a obra que as tiazinhas ao redor do mundo leem no ônibus é realmente pornografia. Uma boba e um cara BEM estranho Cinquenta Tons de Cinza tem em seu núcleo uma ideia interessante. Uma jovem se apaixona por um sujeito que curte sadomasoquismo e é emocionalmente indisponível, criando um relacionamento diferente e complicado. Nas mãos de alguém que sabe escrever, isso poderia ser muito bom, mas não é o caso por aqui (e no livro também). A jovem Anastasia e Christian Grey, um bilionário de 27 anos que é um prodígio, já que é piloto, pianista e provavelmente faz um empadão de frango mó bom, já que ele não erra em nada, não tem nada em comum. A cena em que eles se conhecem é ABSURDAMENTE constrangedora e não pelos motivos certos. Já nessa cena, é possível notar o quão pobre é o material que os envolvidos no filme tiveram que usar pra trabalhar. Os dois atores principais (Jamie Dornan e Dakota Johnson) não são ruins, apesar de estarem longes de serem espetaculares, mas não existe talento que salve a história e o roteiro pobre de Cinquenta Tons de Cinza. O filme tem a capacidade de falhar em praticamente todas as possibilidades nas quais poderia se encaixar. Ele não funciona como romance, como um olhar sobre a cultura BDSM ou sequer pra sacanagem. Com o passar do tempo, você começa a pensar que a Anastasia é retardada e que o Christian Grey só não está preso pelo simples fato de ser um bilionário. E não, ele não deveria estar preso pelo lance de BDSM, mas tem umas atitudes que me deixam extremamente cabreiro em relação às mulheres que gostaram do livro. Tá, mas e a parte “quente”? Muito se falou sobre a adaptação de Cinquenta Tons de Cinza devido ao fato de o livro que origina tudo é extremamente gráfico (além de escrito de um jeito constrangedor). Obviamente, por não ser um filme com cenas explícitas, muito do que está nas páginas não foi transportado para o cinema. Mesmo assim, esperava-se que ele tivesse, no mínimo, um erotismo todo especial. E aí entra um dos problemas do filme, que também parece estar presente no livro (não li, então estou indo pela “voz do povo”): toda a parte de sexo que é apresentada parece extremamente artificial. A Dakota Johnson é uma moça realmente bonita e o Jamie Dornam é um cara bonito também. Na teoria, colocar duas pessoas bonitas pra se pegarem na frente da câmera já seria meio caminho andado pra fazer o negócio ferver, mas é tudo vazio e não chega a impressionar ninguém, não existe uma química muito boa entre os envolvidos pro negócio funcionar. Existe a nudez durante o filme (principalmente por parte da Dakota), mas não é nada que estimule a imaginação do espectador. Mas o chicotinho canta bonito no filme? Outro elemento muito falado desde o lançamento do livro é conteúdo de BDSM. Era algo que, na mão de alguém capaz, poderia render uma boa história, apresentando melhor esse universo que ainda é visto como tabu por grande parte da população. Só que Cinquenta Tons de Cinza usa isso apenas para se perfazer de “kinky” e deixa tudo feito nas coxas (sem piadinhas). As sessões em que Christian Grey leva a jovem virgem (pois é, ele ainda encontra uma virgem) para o seu “quarto de jogos” é um tanto estranha, já que apesar de contar com vários apetrechos, você vê ele dar umas chicotadinhas de leve na moça, passa um gelinho e “nossa, como ele é ousado”. Pesquisando um pouco, o livro meio que apresenta isso de maneira diferente, contando que ele DESCE O SARRAFO na menina, deixando ela quase sem andar, mas no filme é tudo tão sem graça que não vale um pingo da polêmica que foi gerada. Um filme sem rumo Uma das coisas que realmente me incomodam em alguns filmes é a vontade de simplesmente ir empurrando a história com a barriga. Alguns longas, como O Abutre, fazem isso ao seu favor, já que você não sabe exatamente até onde a trama irá, até que você percebe que tudo está afunilando para um final satisfatório. Cinquenta Tons de Cinza apresenta a parte ruim disso. O filme simplesmente vai seguindo cenas, sem parecer ter um plano pré-estabelecido, até que chega ao seu final e termina de qualquer jeito. De qualquer jeito também não, já que claramente é deixado o gancho para a sequência (os dois livros seguintes já estão sendo adaptados para o cinema), fazendo com que tudo fosse só uma provocação que te leva a lugar algum. Um bom jeito de resumir Cinquenta Tons de Cinza é chamá-lo de “Blue Balls”. Ele provoca, fica rodeado de mistério e polêmicas, você chega pra assistir e ele não te entrega nada que preste e só te deixa na vontade. Blue balls. Fato: a moça é realmente muito bonita No final das contas, existe pelo menos um elemento do filme que é bom: a sua trilha sonora. Ela consegue criar muito mais um CLIMÃO MANEIRO do que todo o resto. Dessa forma, parabéns pra quem escolheu as músicas do filme. Ao término das 2h e 5min de Cinquenta Tons de Cinza, a única coisa que eu espero é que a carreira dos atores principais não vá pra vala por causa desse projeto e eles consigam evoluir e trabalhar em coisas melhores. Veredito Vaultinho ficou bolado com o filme