Review: A Bruxa (ou Como o hype pode matar a graça de um filme)

Quando um novo filme de suspense ou horror está prestes a estrear, sempre que rolar aquelas hipérboles de “o filme mais assustador dos últimos tempos”, “você sairá perturbado do cinema” ou coisas desse tipo, desconfie. Eu não desconfiei e, talvez por isso, A Bruxa me pareceu um filme tão sem graça que meio mundo vai me malhar por falar mal.

Porque não, você não vai sair apavorado do cinema. Nem com medo de apagar a luz. MENOS. BEM MENOS.

Peregrinos e um bode preto

A Bruxa começa com uma família sendo expulsa de uma pequena vila nos confins da Nova Inglaterra. Nunca é explicado exatamente o que o pai fez, apenas que era ligado à religião e geral não curtiu.

Eles se embrenham no mato e fazem sua própria fazenda. A vida não é fácil, mas eles vão tocando. Até que o filho mais novo é, aparentemente, sequestrado por uma mulher que vive na floresta. E é basicamente isso o que você precisa saber sobre os acontecimentos que dão início à trama de A Bruxa.

Falar sobre mais detalhes do filme é entregar boa parte do que acontece, e isso seria uma sacanagem porque A Bruxa é realmente interessante. Baseado em lendas e documentos da época da caça às bruxas nos EUA, o filme tem como personagem principal a jovem Thomasin, adolescente que começa a demonstrar que está se tornando uma mulher e, por isso, é vista como ameaça pelos olhos conservadores de sua mãe.

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O simbolismo por trás de vários elementos do filme é importante e faz sentido até quando transportado para os tempos atuais, mas, A Bruxa tem um problema sério de ser um filme em que ele não consegue se decidir se quer ser algo realista ou sobrenatural, criando uma experiência estranha e que não chega ser satisfatória para nenhum lado.

Se o filme decidisse o que queria contar e fosse em frente com isso, com certeza seria fantástico, vide que, mesmo com os seus problemas, ainda é realmente tenso. O problema é que a história fica indo de um lado para o outro, fazendo com que coisas simplesmente vão acontecendo e aí o filme acaba.

Parece meio cretino falar assim (e é), mas A Bruxa tem um problema grave de matar tempo com coisas que não acrescentam em nada ao filme, fazendo ele parecer arrastado. Por causa disso, a impressão de que algo vai acontecer e você terá algum tipo de resposta aos acontecimentos cresce absurdamente, somente para tudo ser ignorado e “resolvido” de um jeito que vai fazer muita gente levantar xingando o filme quando o nome do diretor aparecer na tela.

Digo isso porque basta uma breve pesquisa na internet para ver que essa é uma reação comum em várias sessões do filme. E isso acontece exatamente pelo fato de que o hype em torno do lançamento do longa foi absurdo.

Vítima do hype

Desde que A Bruxa começou a ser divulgado, críticos americanos o colocavam como “o filme mais assustador dos últimos anos”, Stephen King falando que morreu de medo, gente falando absurdos sobre a produção, mas o resultado se mostra algo diferente.

Não é um filme ruim, mas não é 10% do que falaram por aí. Se tivessem falado “é um filme interessante, tenso, cheio de simbolismos e que levanta algumas questões relevantes ate os dias de hoje”, eu concordaria e falaria “BOA”. Vender como algo assustador chega a ser desonesto.

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A Bruxa é um bom filme “indie” de suspense, do tipo que você não tem todas as respostas que deseja, mas que traz boas atuações (principalmente da atriz Anya Taylor-Joy), mas é só isso. Como filme de horror, como muita gente tá pintando, é BEM ruim. Não pense que vai levar sustos ou sair horrorizado do cinema. Dependendo do embalo, grande chances de você sair puto.

Em resumo, bom, mas não acredite no hype ou em crianças que falam com bodes pretos chamados Phillip.