Review: Assassin’s Creed

Assassin’s Creed está muito longe de ser a tragédia que muita gente pintou. Por outro lado, também não chega nem perto de ser a salvação das adaptações de jogos que todos esperavam que ele fosse. No fim das contas, mesmo com a participação da Ubisoft em sua produção, a ideia de levar a saga dos assassinos para as telonas não é nada mais do que um filme mediano.

É claro que isso não é algo necessariamente ruim, principalmente olhando para as atrocidades que já vimos até aqui. Ele transporta muito bem os conceitos da série para os cinemas, fugindo da descaracterização que vimos em outras produções. Só que, ao mesmo tempo em que o filme se preocupa em nos explicar toda a loucura da guerra entre assassinos e templários, memórias genéticas e saltos temporais, ele se esquece de fazer com que seus personagens sejam interessantes.

Assassin's Creed

E esse é o maior tropeço de Assassin’s Creed. Apesar da fidelidade com o material original, a falta de profundidade e desenvolvido personagens não é capaz de trazer o espectador para dentro desse universo, seja ele um novato ou um velho fã dos assassinos.

Inversão de papéis

O que mais chama a atenção por aqui é que Assassin’s Creed faz uma inversão de valores em relação àquilo que estamos acostumados a ver nos jogos. Nos videogames, as cenas no presente servem apenas de justificativa e costura para a parte central da saga, que é toda focada no passado. Porém, nos cinemas, o que vemos é o exato oposto.

A razão para essa mudança é clara. Para poder explicar com calma toda a bagunça envolvendo a Absetergo, o funcionamento da Animus e a ideia das memórias genéticas, era preciso fazer com que o roteiro valorizasse muito mais o tempo presente. E não há nada de errado com isso. É um pouco frustrante ver toda a ambientação da Espanha do fim do século XV ser reduzida a um playground para a ação, mas não é nada que atrapalhe. O que realmente incomoda é que, no meio de tudo isso, a Fox e a Ubisoft esqueceram de dar vida a seus personagens.

Assassin's Creed

Em termos gerais, o enredo de Assassin’s Creed lembra muito ao do primeiro jogo, trazendo um descendente de assassinos sendo capturado pela Abstergo e obrigado a entrar em máquina que vasculha suas memórias genéticas. No caso, ao invés de Desmond Miles, temos Cal Lynch (Michael Fassbender), um criminoso sentenciado à morte que começa a entender aos poucos o seu papel dentro dessa guerra milenar. E é nas recordações de seu antepassado Aguillar é que está a chave para o fim desse conflito — ou quase.

Salto vazio

O problema de Assassin’s Creed é que, no meio de toda essa salada, sobram explicações e falta desenvolvimento. Mesmo sendo o protagonista, o personagem de Fassbender tem uma evolução baseada em transformações repentinas e soluções rápidas. Com Marion Cotillard isso é ainda mais aparente, já que sua personagem tem uma reviravolta tão repentina e que contradiz todo seu arco narrativo que você fica sem entender de onde aquilo surgiu.

Assassin's Creed

Já os demais mal podem ser chamados de coadjuvantes. Todos os assassinos do presente desempenham papéis tão terciários que surpreende o fato de eles terem falas. Você passa mais de duas horas esperando para ver o que eles são capazes de fazer para no fim das contas, ficar apenas na promessa.

E tudo isso afeta diretamente no roteiro. Mesmo com ele sendo capaz de apresentar todos os conceitos, os personagens são subaproveitados a ponto de não conseguirem criar a dimensão necessária para nos apresentar a guerra sugerida pela trama. Assim, quando acontece a virada na história, ela não tem o impacto esperado.

Aliás, a impressão que fica é que Assassin’s Creed simplesmente não sabe o que fazer seus assassinos. No presente ou no passado, eles são pouco mais do que cambalhotas e pulos em telhados, no máximo um golpe com uma postura retirada da Dança dos Famosos. E isso é ainda mais frustrante quando os trailers vendem essa ideia de que realmente teríamos algo diferente. O que faz valer a pena são os últimos 10 minutos que, como toda produção da Ubisoft, nos faz querer acreditar que tudo será melhor em uma sequência.

O problema é que, neste caso, é difícil acreditar que veremos esses assassinos nas telonas mais uma vez.