Entre Facas e Segredos: trairagem e mistério em um dos filmes do ano André Luiz de Mello Pereira Cinema 11 de dezembro de 2019 Filmes de mistério que parecem uma imensa partida de Detetive são bem divertidos, até porque começam a inventar meios mirabolantes pra jogar a narrativa de um lado pro outro e fazer o espectador tentar adivinhar quem é o culpado. Entre Facas e Segredos, novo filme de Rian Johnson, de Brick, Looper e Star Wars: Os Últimos Jedi, tenta usar esse climão para contar uma história que consegue ser diferente e usar um dos melhores elencos em um filme só nos últimos anos. Thrombey no sotão com o punhal Entre Facas e Segredos conta a história da família Thrombey e o fatídico aniversário do patriarca Harlam Thrombey. No fim da festa, os convidados vão embora, apenas para no dia seguinte encontrarem o corpo de Harlam, um famoso escritor de romances de mistério, morto em um aparente suícidio. As coisas pareciam resolvidas até o investigador particular Benoit Blanc, interpretado com um sotaque maravilhoso pelo Daniel Craig, aparece para entrevistar a família e a cuidadora de Harlam, a jovem Marta. Não demora muito para perceber que algumas figuras teriam motivo para apagar o velho, o que faz com Blanc comece a investigar o caso como um possível assassinato. A estrutura inicial do filme é bem no esquema “Quem matou?”, usada em várias histórias. Só que Entre Facas e Segredos acaba por surpreender o espectador com a ordem que os fatos são apresentados. Falar mais sobre isso é entregar um baita spoiler, mas é como se em vez de você passar o filme inteiro catando peças para montar um quebra-cabeça no final, ele simplesmente te entregasse quase todas as peças logo no início e segurasse as três últimas pro final. Parece uma coisa de louco que tiraria toda a graça do filme, mas na verdade, ele acaba por fazer com que o espectador fique ainda mais atento para saber se não deixou nada escapar. Um BAITA elenco O roteiro de Entre Facas e Segredos é realmente bom, porque ele segura a atenção do espectador desde o início e consegue, sem fazer muito esforço, apresentar personagens interessantes e que você sente que têm uma personalidade própria e que poderiam tocar a sua própria história, momentos em que cutuca a ferida de diferenças sociais, políticas e, além de tudo, consegue entregar momentos engraçados que funcionam muito bem. Só que o roteiro poderia ser maravilhoso e ainda assim o filme ser ruim não fosse o elenco. Todo mundo no filme brilha, uns mais, outros menos, mas ninguém tá mal ali. Os verdadeiros destaques estão com o Daniel Craig, no papel do Benoit Blanc, e da Ana de Armas, como Marta. O Craig parece estar se divertindo no papel, que segundo o diretor, poderia até render mais filmes estrelados por ele. Já a Ana de Armas praticamente leva o filme inteiro nas costas, até por ser em boa parte, a pessoa que leva a história para frente. Não é a toa que os dois foram indicados aos Globos de Ouro e não seria um absurdo ver pelo menos a Ana de Armas indicada ao Oscar (se leva, aí já são outros quinhentos). Em resumo Entre Facas e Segredos é um baita filme. Mostra mais uma vez a qualidade do Rian Johnson como diretor (não se fala mal de Os Últimos Jedi porque apenas os errados fazem isso) e roteirista, entregando o que pode ser um dos melhores filmes de 2019. Não sei ainda se é o melhor, mas tá ali perto do topo com certeza.