Misfits: quem são, o que comem, o que tocam e a reunião da formação original

2016 parece ser o ano de reuniões inusitadas de bandas. Primeiro foi o Guns n’ Roses que, depois de quase 20 anos, voltou com seus membros mais clássicos. Agora, é a vez dos mestres do horror punk, Misfits, fazerem isso. E por que essa é mais uma reunião inusitada? Porque o que não falta na história da banda são brigas entre os seus integrantes.

Mas quem diabos são os Misfits? E por que alguém se importaria com uma banda de horror punk? Bom, pra começar a banda já teve suas músicas gravadas pelo próprio Guns n’ Roses e pelo Metallica. Além disso, Marky Ramone já foi um integrante da banda. Estamos falando de uma banda que, apesar de não ter tido o sucesso que deveria e merecia (muito provavelmente por causa das dezenas de brigas entre integrantes), é uma das bandas que mais influenciaram outras bandas.

Antes de comentar mais sobre a banda, é bom contar um pouco da história do Misfits (só um pouco mesmo, porque é tanta confusão entre os integrantes que daria pra escrever um livro com a quantidade de histórias e boatos sobre a banda).

Primeira Fase

Os Misfits começaram em 1977 com dois amigos de colégio: Glenn Anzalone e Gerald Caiafa, que assumiram os nomes artísticos Glenn Danzig e Jerry Only. Glenn era o vocalista e também tocava piano elétrico, enquanto Jerry tocava baixo. Os dois gravaram duas músicas: “Cough Cool” e “She”. Depois recrutaram mais dois amigos e, em 1978, gravaram o primeiro disco oficial do Misfits: “Static Age” que só foi lançado no final da década de 90. (Imagine o porque).

Depois de algumas trocas de membros (exceto por Danzig e Only), a banda gravou o “12 Hits From Hell” que não foi lançado na época, seria lançado em 2000, mas estamos falando do Misfits, então…

Após mais algumas brigas e trocas de integrantes, finalmente, em 1979 chamam o irmão mais novo de Jerry, Paul (aka Doyle Wolfgang von Frankenstein) para tocar guitarra. Em 1980, entraria para a banda o baterista Robo e estava criada a formação que ficou conhecida como clássica.

misfits clássico

Até 1981, os Misfits só gravaram alguns EPs, mas só em 1982  sai o primeiro disco da banda lançado naquela época, o Walk Among Us. Em 1983, sai o segundo (e último) álbum dessa fase, Earth A.D./Wolfs Blood. Neste mesmo ano, Danzig decide seguir carreira solo formando o Samhain e essa primeira fase dos Misfits se encerra.

Segunda Fase

Depois da saída de Danzig, a banda realmente acabou e Only e Doyle não fizeram mais nada. Os Misfits tinham se tornado apenas uma banda passageira que só quem tinha vivido, principalmente o cenário underground de Nova York, conhecia.

Em 1987, apesar de estarem parados, os membros do Misfits entraram em mais uma briga: o direito do uso do nome. Danzig e Only disputaram judicialmente quem poderia usar o nome. E isso só foi resolvido em 1995 com Jerry ganhando a disputa.

O grupo ficou no ostracismo até o começo dos anos 90 quando algumas bandas famosas começaram a regravar algumas de suas músicas. O Guns n’ Roses gravou Attitude no seu álbum Spaghetti Incident e o Metallica gravou Die, Die My Darling no Garage Inc.

No final de 1994, Only e Doyle resolveram iniciar testes para um novo vocalista e voltar com a banda. Depois de alguns nomes serem cogitados (Peter Steele do Type O Negative e Dave Vanian do The Damned foram dois deles), foi escolhido um jovem de 20 anos que não conhecia a banda até então: Michale Emmanuel (aka Michale Graves). Além do vocalista, os irmãos Caiafa também chamaram David Calabrese para assumir as baquetas. David se tornou Dr. Chud (Cannibalistic Human Underground Drummer).

O primeiro show dessa nova formação foi realizado dia 27 de outubro de 1995, depois da ação judicial pelo direito do nome, mas um novo disco só seria lançado em 1997: American Psycho. Na mesma época, pela primeira vez, também foram gravados clipes da banda, o que foi suficiente para fazer com que os Misfits se tornassem, finalmente, uma banda conhecida e respeitada. Os dois primeiros clipes foram American Psycho e Dig Up Her Bones.

Em 1999, a banda lançou o seu segundo álbum dessa nova fase e que acabou se tornando o mais conhecido de toda sua discografia: Famous Monsters. Apesar do sucesso, a banda continuou com problemas internos. Em 2000, Michale Graves e Dr. Chud deixaram a banda. Graves disse que sua saída foi por causa de uma discussão que ele teve com Only em 1998 antes dos shows no Brasil (na época, Graves disse que não estava apto para fazer uma turnê sul-americana e foi substituído por Myke Hideous para esses shows).

Apesar da saída de Michale e Dr. Chud, os Misfits continuaram na ativa, mas dessa vez com Robo na bateria novamente e Only assumindo os vocais. Porém, em 2001, durante a comemoração de 25 anos da banda, Doyle e Robo resolveram sair. De acordo com Doyle foi devido a desentendimentos com seu irmão, Jerry.

Para substituir Doyle e Robo, Only chamou Marky Ramone e Dez Cadena (ex-Black Flag). Essa formação durou até 2005 e gerou um álbum em 2003: Project 1950, no qual a banda tocava covers de músicas dos anos 50. Os shows dessa época tinha um setlist pra nenhum fã de punk rock botar defeito: Misfits, Black Flag e Ramones.

Em 2002, Doyle tentou uma reunião com os membros originais, mas Only barrou o projeto. Mesmo com Jerry detendo os direitos, Doyle e Danzig se reuniram em 2004 para fazer um show de 30 minutos tocando apenas músicas da primeira fase do Misfits. Na época, Glenn declarou que aquela seria “o mais próximo de uma reunião dos Misfits que vocês verão”.

Os Misfits continuam na ativa até hoje, a formação atual (antes da reunião) é Jerry Only nos vocais e baixo, Dez Cadena na guitarra e Eric “Chupacabra” Arce na bateria.

Misfits Atual

Visual

Além das músicas, uma das coisas mais notáveis do Misfits é o visual dos integrantes. O topete caído na cara se tornou marca registrada da banda.

Misfits

Outra marca registrada da banda é o “mascote” da banda. A caveira símbolo da banda se tornou um ícone da cultura pop sendo usada em dezenas de produtos diferentes, principalmente camisetas. Não é difícil ver alguém na rua ou um músico usando uma camiseta com o símbolo característico da banda.

Misfits Camiseta

Música

Bom, acho que já deu pra sacar qual é a pegada e o estilo das músicas do Misfits. Canções rápidas, diretas, sem muita frescura com temas abordando filmes de terror lado-b, ficções científicas dos anos 50, monstros clássicos e assassinato. Mas calma, eles não cultuam o Capiroto ou algo do gênero. Até as letras mais pesadas são espécies de histórias satíricas sobre o assunto.

As músicas da banda têm algumas características que são marcantes em toda a sua discografia, a atmosfera que as vozes de Danzig e Graves conseguem criar. Apesar de cada vocalista ter o seu próprio estilo, o jeito como eles cantam, adicionados com os backing vocals de Only e Doyle, você se sente mesmo dentro de um filme de terror.

Outra característica são os refrões chicletes que grudam na cabeça e te deixam cantarolando por bastante tempo. Seja através das letras ou mesmo dos “OOOOO” – um dos recursos melódicos mais usados pela banda.

As músicas de estúdio também contam com barulhos no fundo feitos com instrumentos ou apenas gritos espaçados ajudam bastante a criar essa atmosfera que a banda gosta de passar.

Os Misfits têm duas fases bem claras que acompanham sua história, a primeira com Danzig nos vocais e músicas mais simples, mas que são clássicos do punk até hoje: Hybrid Moments, Last Caress, Attitude, Die, Die, My Darling, Hate Breeders, Skulls, We Are 138, Astro Zombies são algumas das músicas que podem ser destacadas.

Já a segunda fase, com Graves nos vocais, a pegada da banda muda um pouco. As músicas se tornaram mais rápidas e mais pesadas, mas ainda mantendo o mesmo estilo de melodia. American Psycho, Dig Up Her Bones, Shining, Don’t Open ‘Till Doomsday, Fiend Club, Saturday Night, Helena, Scream são obrigatórias dessa fase.

Qual a melhor fase da banda? Isso é uma discussão de boteco sem fim. Tem gente que defende os Misfits de raiz, com Danzig nos vocais. Já outros defendem que a fase Graves é a melhor de todas. Mas quase todos os fãs concordam com uma coisa: Only nos vocais não dá!!! Parece um cover da própria banda. No estúdio ele até se safa, mas ao vivo é sofrível.

Tomara que essa reunião funcione, que acontecerá durante o RiotFest 2016, e Danzig volte pra valer para a banda, com Only passando o bastão de vocalista para ele. Será interessante vê-lo cantar as músicas da segunda fase da banda. Mas estamos falando dos Misfits, então se a banda chegar até setembro (data dos shows de reunião) com essa formação já vai ser uma grande vitória. Acho que nem preciso dizer o porque…

Fonte: Misfits/Whiplash/Misfits Central