Premium Albuns: …And Out Come The Wolves

Uma das bandas responsáveis pelo ressurgimento do punk rock ao lado do Green Day e do Offspring, o Rancid comemorou mês passado 20 anos de lançamento do …And Out Come The Wolves. O álbum é provavelmente o mais famoso da banda e um dos três discos responsáveis pelo “novo” punk rock dos anos 90 (Dookie, do Green Day e Smash, do Offspring, são os outros dois). Com influências de ska e outros ritmos – mais os moicanos coloridos dos integrantes – ... And Out Come The Wolves fez com que o Rancid fosse colocado como um dos principais nomes do punk na época do seu lançamento.

Essa tal “novo” punk rock começou no início dos anos 90, na Costa Oeste americana, com grupos influenciados, principalmente, pela primeira leva de bandas dos anos 80: Adolescents, Bad Brains, Descendents, Black Flag, Circle Jerks, Dead Kennedys, Bad Religion e tantas outras mais.

Também servindo como contrapartida ao clima cinzento e depressivo do Grunge, o “novo” punk serviu como um substituto para as gravadoras/rádios/MTV da época, que começaram a procurar bandas de outros estilos depois da morte de Kurt Cobain. Com músicas falando sobre cotidiano, masturbação, bebedeiras e deixando um pouco de lado o lado político, foi o estilo que fez com que o Grunge, que predominava nas rádios mas já estava perdendo a força, fosse deixado de lado.

O Rancid começou a se destacar com a música Time Bomb, um dos singles de ... And Out Come The Wolves. Com aquele refrão que gruda na cabeça (“Black Coat, White Shoes, Black Hat, Cadillac, Yeah!, The Boy Is A Time Bomb!”), somado a um clipe bem básico, mas que mostrava o visual da banda com moicanos coloridos, coturnos e jaquetas com rebites, foi mais que o suficiente para fazer um moleque de 12 anos querer ir atrás do disco e conhecer mais a banda.

Um Pouco de História

O Rancid foi formado em 1991 com o fim do Operation Ivy, a antiga banda de Tim Armstrong (vocal/guitarra) e Matt Freeman (baixo). Em 1993, a banda chamou Lars Frederiksen para fazer a segunda guitarra e, junto com Brett Reed na bateria, é a formação mais clássica da banda, que durou até 2006 – quando Brett deixou a banda e foi substituído por Branden Steineckert.RancidBandaAinda em 1993, eles lançaram o álbum Rancid e em 1994 o Let’s Go (que incluía a música Radio, escrita em conjunto com Billie Joe do Green Day). Então, finalmente em 1995, é lançado …And Out Come The Wolves.

O Álbum

Pra começar falar sobre …And Out Come The Wolves tenho que falar da capa que durante muito tempo foi um enigma: Quem era esse punk sentado na escada de cabeça baixa? A resposta só veio no começo deste ano, quando o próprio Rancid deu a solução do enigma. O punk é o próprio guitarrista da banda, Lars Frederiksen, e a capa é uma homenagem à capa do álbum do Minor Threat, de 1984.

Comparacar

Só pra dar alguns detalhes técnicos antes de começar falar das músicas: o álbum foi gravado entre fevereiro e março de 1995 e produzido por Jerry Finn (que já tinha trabalhado como mixer no Dookie do Green Day, além de ter produzido o álbum anterior do Rancid).

O disco tem 19 músicas e destacamos algumas para serem comentadas. É até díficil analisar isoladamente uma música ou outra do álbum, já que todas são bens construídas e juntas formam um disco sólido, enérgico e ótimo para ser escutado do começo ao fim – até pra quem não é fã do gênero. Mesmo assim, se você tirar uma canção do álbum e escutar em separado, ela não vai parecer uma música solta. Ela vai ter uma identidade própria.

O … And Out Come The Wolves soa atual até para os dias de hoje. Os timbres dos instrumentos usados no disco poderiam muito bem serem usados em um disco atual. E é aí que está o charme do disco que o coloca como um dos discos mais importantes para o punk rock moderno: Músicas bem construídas e atemporais.

Logo de cara, o álbum começa com Maxwell Murder, um punk rock básico com menos de 1 minuto e meio, que mostra uma das características mais marcante da banda: o baixo!

Baita linha de baixo e baita solo! Matt Freeman é um dos melhores baixistas do punk rock e isso fica evidente a cada faixa do disco.

Outra música em que o baixo se destaca é Journey to the End of East Bay. A música começa com um riff de baixo que segue até o começo do verso e volta aparecer depois do segundo refrão, mas dessa vez servindo como o “solo da música”.

O nome do álbum foi tirado de um poema de Jim Carrol (autor de Diários de um Adolescente), recitado durante a faixa Junkie Man, escrita em parceria com o próprio poeta.

Uma característica do álbum (e do próprio Rancid) é a alternância de vocais entre as músicas. A maioria das faixas é cantada por Tim Armstrong, mas algumas músicas (inclusive um dos singles) é cantada por Lars.

Enquanto Tim tem uma voz mais arrastada, mais rouca, quase como um bêbado cantando, a voz do Lars já é mais limpa. Isso fica claro em Roots Radical,  o primeiro single do álbum. A faixa começa com  Lars cantando, passando pelos dois vocalistas se complementando no refrão, e Tim cantando o resto.

Roots Radical, apesar de não ser um reggae, é uma homenagem ao estilo Reggae Roots que os integrantes escutavam na sua adolescência. A letra contém referências a Jimmy Cliff, Desmond Dekker, Stiff Little Fingers e Bunny Wallers.

O Ska, uma das maiores influências da banda, está presente em Daly City Train, Old Friend e no single de maior sucesso do álbum, a já citada Time Bomb. Nos outros dois discos anteriores da banda, essa influência praticamente não apareceu. Isso também é algo que faz o … And Out Come The Wolves ser o que é – Rancid usando suas maiores influências na criação das músicas.

Time Bomb (o segundo single) é aquela música que você já deve ter escutado em algum lugar, em algum momento. O refrão, como comentado anteriormente, gruda na cabeça. A faixa chegou a ficar em oitavo lugar na Billboard e fez com que muitos que conheceram o punk rock através de Green Day e de Offspring, conhecesse o Rancid e outras bandas do gênero.

Só uma curiosidade, o prédio em que foi gravado o clipe de Time Bomb, é onde atualmente fica o escritório central do Kickstarter.

Ruby Soho é a minha favorita do álbum. Foi o terceiro single do ...And Out Come The Wolves e chegou a ficar em décimo terceiro lugar na Billboard. A introdução é tirada de “Give Me Power” do The Stingers e, além disso, já foi regravada pelo próprio Jimmy Cliff. Nessa música, novamente é possível perceber a diferença de vozes dos dois vocais e como eles se complementam, principalmente na parada de guitarra da música quando entra o Tim cantando e, depois, o Lars.

Depois dos Lobos

Com o sucesso de “…And Out Come The Wolves”, muitos engravatados tentaram contratar a banda, que preferiu se manter na gravadora independente que estavam, a Epitaph. Lá eles ficaram até 2000, quando o próprio Tim Armstrong montou o seu selo musical chamado Hellcat.

O álbum seguinte – Life Won’t Wait – só foi lançado três anos depois, em 1998. Em 2000, após o lançamento do quinto álbum, a banda deu uma parada para que os integrantes pudessem se dedicar aos seus projetos paralelos. Tim Armstrong montou o Transplants com Travis Barker do Blink 182 e Lars montou o Lars Frederiksen and the Bastards.

Em 2003, o Rancid voltou com o álbum Indestructible e, hoje em dia, já estão no oitavo CD de sua carreira e fazendo shows pelo mundo inteiro. Infelizmente, eles nunca vieram ao Brasil. Quem sabe um dia?

Premium Albuns é a coluna do Puro Pop em que nós falamos sobre os principais álbuns de bandas que fizeram a diferença nos seus estilos. Contextualizando a importância do disco (sim, eu ainda falo disco. Me deixa!) e explicando porque o negócio é tão legal. Basicamente, somos nós falando de música que curtimos e tirando uma onda no processo.