Revisitando Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones

Logo no começo de Uma Nova Esperança, Luke pergunta pra Ben Kenobi se ele lutou nas guerras clônicas. Como se fosse algo simples tipo ir ali na esquina comprar um pão doce, o jedi responde que sim e fica por isso mesmo. Ao longo da trilogia clássica nada mais é sequer mencionado sobre o tal conflito, deixando pra nossa imaginação o que teriam sido essas batalhas – particularmente, eu acreditava que se tratava da vez em que milhões de clones da ovelha Dolly tentaram dominar a galáxia.

Eis que, em 2002, George Lucas mostrou que eu estava enganado ao nos mostrar o surgimento das guerras clônicas em Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones, filme que, assim como A Ameaça Fantasma, também é lembrado com desdém pelo imaginário popular.

Será que o segundo capítulo da nova trilogia é tão ruim quanto a gente se lembra?

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Ritmo acelerado

Dez anos após os eventos do Episódio I, centenas de milhares de sistemas solares (não sei se os roteiristas pensaram a fundo na quantidade absurda de gente que isso é) declaram suas intenções de deixar a República num movimento separatista liderado pelo “misterioso” Conde Dooku – que no Brasil virou Conde Dookan por motivos óbvios. Os jedi, sempre a turma do “deixa disso”, tão penando tanto pra conseguir manter a paz na galáxia que foi proposto a criação de um exército da República para auxiliá-los.

O filme começa com a nossa querida Padmé, agora senadora e não mais rainha de Naboo, chegando em Coruscant em sua nave ainda mais maneira que a anterior pra votar a tal moção. Tudo parece correr bem na plataforma de pouso, ao passo que o capitão Typho – substituto do lendário capitão Panaka – diz “olhaí, não é que não tinha perigo algum?”. É claro que imediatamente depois dessa fala há uma enorme explosão que destrói a nave de Amidala e joga todo mundo pelos ares.

A sorte é que Padmé estava usando uma sósia e havia viajado numa das naves batedoras, sofrendo apenas um baita tropeço. A senadora corre até sua dublê que, no leito de morte (a explosão foi tão braba que a mulher perdeu até os sapatos), pede perdão por ter lhe falhado – o que não faz sentido porque se o trabalho dela era fingir ser a Padmé pra que possíveis assassinos mirassem no alvo errado, ela deveria ser eleita funcionária do mês.

Logo de cara é possível perceber que Ataque dos Clones começa de forma mais acelerada e, principalmente, instigante do que A Ameaça Fantasma. Por mais que o longa não abra com nenhuma cena de ação frenética, logo no comecinho já há um mistério a ser resolvido.

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A senadora e outros membros do comitê pró República (incluindo Jar Jar Binks que, de alguma forma, agora tem uma posição política) logo se encontram com o chanceler Palpatine e membros do conselho jedi. Yoda, super fofinho, diz que vê-la viva enche seu coração de sentimentos quentes. Padmé ignora completamente o baixinho (sério, ela nem manda um “valeu, cara”, nem um joinha) e diz que acha que o autor do atentado foi o Conde Dooku.

Mace Windu responde “amiga, você tá louca. Ele já foi um jedi, sabia? Não é capaz de matar ninguém” como se ser um jedi fosse sinônimo de ser um padre franciscano totalmente antiviolência – padres esses que não cortam ninguém ao meio como Obi-Wan fez com Darth Maul no último filme.

Ao invés de argumentar que Dooku é o líder separatista e ela é a líder “nacionalista” (ou seja, a morte da senadora seria totalmente do seu interesse) e que o cara ser um ex-jedi o torna muito mais suspeito do que algum idealista comum (ainda mais se você levar em conta que ele sumiu por anos após abdicar a ordem e voltou agora do nada liderando uma galera contra a República), Padmé simplesmente dá de ombros.

Palpatine sugere que ela receba proteção dos jedi e Amidala, mesmo após ver sua nave ser explodida e seus serviçais assassinados, recusa dizendo que a situação não é assim tão grave (parece que é o dia oficial de não fazer sentido e Padmé está comemorando com muita dedicação). O chanceler insiste e propõe alguém que lhe seja familiar, como Obi-Wan Kenobi – o que é uma forma bem bolada e lógica de reunir a galera do primeiro filme.

Uma coisa interessante de se notar é como Ian McDiarmid, ator que faz o Palpatine, tá visivelmente “mais acabado” em relação ao último filme, com um semblante mais velho e olheiras maiores. Claro que isso pode ser um negócio chamado “idade”, mas com apenas 3 anos entre os episódios, pode ter sido maquiagem pra indicar como ele está mais próximo do lado negro da força.

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Um raríssimo momento de amizade

Após Padmé aceitar a proteção de Obi-Wan, vemos o mestre jedi – com seu novo visual Miami Vice – e seu aprendiz, Anakin Skywalker – agora um adolescente grudado em seu iPhone -, no elevador ao som de Garota de Ipanema indo se encontrar com a política.

Essa cena é fantástica porque pela primeira vez (e infelizmente uma das únicas em toda a nova trilogia), vemos um momento claro de amizade entre Obi-Wan e Anakin. O moleque tá super nervoso porque não vê a mulher há 10 anos e seu mestre tenta acalmá-lo, com direito à lembrança de uma situação do passado deles que faz com que ambos esbocem uma gostosa risada. Nessa cena você acredita que os caras são amigos de verdade.

Por mais que hoje já seja uma crítica meio clichê à nova trilogia, não dá pra deixar de comentar que a escalação de Hayden Christensen nesse filme (“nesse filme?” em QUALQUER filme) foi uma ideia pior do que sorvete sabor fezes. O cara é ruim demais, chega a dar aquele aperto na alma de vergonha alheia ao vê-lo tentando atuar – principalmente mais pra frente do filme.

Chegaram a cogitar o Paul Walker pro papel de Anakin Skywalker, o que me faz invejar o universo paralelo no qual isso se concretizou (não que o falecido Paul fosse uma Meryl Streep homem, mas ele era melhor que o Christensen. Na verdade, até um saco de batatas teria feito um trabalho melhor).

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A dupla é recebida por Jar Jar Binks (sim, ele ainda aparece mais vezes nesse filme) e logo se encontra com Padmé. Anakin imediatamente tenta dar em cima da senadora e dá uma derrapada bonita, o que na cabeça de George Lucas aposto que era pra resultar num momento fofinho tipo “awww, olha ele sem jeito perto da moça!” mas, com a atuação bizarra de Hayden Christensen, dá luz ao primeiro de muitos momentos em que Anakin exala uma aura de estuprador.

Padmé, tal como uma lontra molhada, escorrega pra fora da xavecagem do rapaz dizendo que ele continua o mesmo molequinho que ela conheceu em Tatooine e a galera senta pra bater um papo. A senadora diz que não quer mais segurança e sim respostas, ao que Obi-Wan responde que os jedi estão ali para protegê-la, não começar uma investigação.

Anakin ignora o que seu mestre disse e promete que eles encontrarão o assassino, o que leva a uma discussão 100% torta de climão entre os dois. Lembra o que falei ali em cima sobre o momento de amizade entre o mestre e seu padawan? Aquilo vai pelos ares com essa cena. Anakin e Obi-Wan batem boca como se tivessem se conhecido ontem e odiassem um ao outro (tipo aquele arquétipo clássico de policiais diferentes unidos pelo chefe de polícia), com Kenobi chegando a ser bem babaca na forma como trata seu pupilo. Ele não dá bronca no moleque como um amigo ou até mesmo pai faria, ele faz como se não tivesse intimidade com o garoto e não fosse com a cara dele.

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Uma perseguição e uma biritinha

Vemos a caçadora de recompensas Zam se encontrando com uma figura misteriosa de armadura que também é caçador de recompensas e a contratou – causando um Inception de caçadores de recompensas. Ele lhe entrega um dildo muito doido com vermes venenosos dentro e diz pra mulher que ela não pode errar dessa vez.

É engraçado que após Zam dizer pro cara que ela acertou a nave mas Padmé usou uma dublê, o caçador de recompensas responde “vamos ter que usar algo mais sutil dessa vez, meu cliente está ficando impaciente”. Se o seu cliente tá ficando impaciente, não seria o caso de usar algo mais direto pra terminar o serviço logo?

Um robôzinho na janela sutilmente coloca os vermes dentro do quarto de Padmé – que está sonhando com vingança, balé e Thor – e quando eles estão prestes a dar uma beijoca mortal na senadora, os jedi entram no quarto. Anakin transforma os dois bichos em quatro com seu sabre e Obi-Wan se joga pela janela pra se agarrar no robô.

Num mundo onde carros voam, é bem falho (em termos de segurança) deixar a janela do quarto de Amidala desguarnecida desse jeito. Seria como botar um político importante num apartamento no térreo com a janela do seu quarto virada pra uma rodovia sem ninguém estacionado lá fora de tocaia.

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Por mais de 7 minutos temos uma ótima sequência de perseguição dos jedi à Zam, com momentos emocionantes, trilha sonora certeira e algumas boas cenas de humor pelas vias aéreas de Coruscant, até que a nave da caçadora de recompensas cai e ela foge pra dentro de um bar karaokê na Avenida Paulista.

A dupla a segue dentro do boteco e, enquanto Anakin anda pelo lugar procurando a assassina, Obi-Wan diz que vai pegar uma birita. No balcão do bar, rola uma cena muito boa na qual Kenobi usa seu truque mental pra mandar um jovem traficante de drogas ir pra casa repensar a sua vida. Zam vê o jedi distraído entornando seu goró e, esquecendo que o cara é um jedi, tenta chegar sorrateiramente por trás dele com sua arma – ao invés de atirar logo e pronto. Obi-Wan percebe sua aproximação e decepa o braço da caçadora. Num bar. Isso mesmo, quase que exatamente como na cena da Cantina do Episódio IV. “Sutileza” é uma palavra que não está no dicionário de George Lucas.

A dupla leva a mulher – na verdade uma shapeshifter – pra um beco fora do bar e pergunta quem a contratou (com Anakin quase dando um piti pra assassina abrir a matraca). É claro que só dá tempo de Zam responder “um caçador de recompensas chamado–” antes de um dardo envenenado atingi-la e vermos a tal figura de armadura voando pra longe com seu maneiro jetpack no melhor estilo GTA San Andreas.

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O Conselho Jedi manda Obi-Wan encontrar o caçador de recompensas e descobrir pra quem ele trabalha, deixando para Anakin a missão de escoltar Padmé de volta à Naboo – o que meio estranho se você pensar que um padawan deve ficar sempre próximo ao seu mestre para aprender e tal, mas ok.

Antes de partir, a senadora nomeia Jar Jar Binks (sim, ainda no filme) como seu representante no senado e quando ele dá sinal de que vai começar a tagarelar pra cacete, ela basicamente manda um “cala boca, cara, pelo amor de Deus”, se tornando a minha personagem favorita nesse filme. Anakin começa a choramingar dizendo que Obi-Wan não reconhece seu valor, chegando a ser grosso e até a gritar na frente da moça – uma ótima estratégia de flerte -, fechando a cena com o olhar mais estuprador possível na direção de Padmé. Se você acha que eu tô brincando, dá uma olhada:

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Para de ser babaca, cara

Padmé se despede de seus serviçais e Anakin manda um abraço pra Obi-Wan, que antes fala pro padawan não agir sem falar com ele ou o Conselho. É curioso notar como na maior parte do filme, Obi-Wan é bem babaca com Anakin. Não que ele devesse passar a mão na cabeça do moleque, ser sempre só amigão dele o chamando apenas pra jogar FIFA. Ele é seu mestre, tem que ensinar e chamar a atenção mesmo.

Só que o cara sempre faz isso diminuindo o rapaz e de forma bem grosseira até. Mesmo em momentos simples e curtos, seu tom de voz é de uma pessoa totalmente sem paciência. Isso cria um ressentimento claro de Anakin por ele. Por um lado, isso é bom porque serve como um dos motivos que levam Skywalker a tombar para o lado negro no futuro. Por outro, a amizade que em tese deveria existir entre os dois (até o momento da traição de Anakin) quase nunca está presente, o que diminui o impacto da virada do jedi no terceiro filme. Mas isso é papo pro post do próximo episódio.

Parece que rolou um mal entendido porque Mace Windu diz para a dupla viajar como refugiados, mas parece que Anakin entendeu “refugiados de um ensaio da revista Vogue”. Padmé escolhe o modelito “expatriada chique” e Anakin até veste uma toalha de mesa suja, mas continua com seu corte característico de padawan. Ótimo disfarce, amigos.

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Mais climão

Obi-Wan, depois de usar o dardo do caçador de recompensas pra pegar uma dica com um amigo numa lanchonete e comer um misto quente, vai até os Arquivos Jedi à procura do desconhecido planeta Kamino. Acontece que tal planeta é desconhecido mesmo porque aparentemente ele não existe nem nos arquivos, o que leva o jedi a pedir ajuda ao mestre Yoda – numa cena bem legal na qual vemos pequeninos padawans no meio do treinamento e observamos como Yoda é o professor mais fofinho e gente fina da galáxia.

Os jedi ativam o mapa da sala de comando de Prometheus e Obi-Wan mostra onde o planeta deveria estar, dizendo que há uma força gravitacional na área puxando as estrelas à sua volta, mas não há nada lá. É o maior mistério da galáxia até uma das crianças falar o óbvio: o planeta deve ter sido propositalmente apagado dos arquivos (caraca, Obi-Wan, pelo amor de Deus…). Yoda fica intrigado e diz que apenas um jedi e a NSA poderiam ter feito isso.

Anakin e Padmé chegam à Naboo e logo se reúnem com a atual rainha e sua trupe. Ficamos sabendo que Nute Gunray, um dos antagonistas do Episódio I, ainda é o vice-rei da Federação de Comércio. O cara sitiou e invadiu um planeta, chantageou a rainha, matou uma galera, começou uma guerra… e ainda é o líder da Federação? Como esse maluco não tá preso?! A política do mundo de Star Wars é mais insana que a nossa, quase faz o Palpatine ter razão em tudo que virá a fazer.

O assunto vira a segurança de Padmé e o político Papai Noel pergunta qual a sugestão do “mestre jedi” Anakin. Antes que o moleque possa responder qualquer coisa, a senadora já solta que ele ainda não é um jedi, e sim um aprendiz padawan que usa lancheira dos Transformers, e já sai falando o seu plano. Anakin, mordidinho, tenta interrompê-la e toma uma “com licença” na cabeça. Com direito a mão na cintura, o padawan devolve o “com licença” que tomou e diz que ele que está encarregado da segurança, gerando mais uma cena torta de climão que só serve pra deixar quem tá assistindo ao filme desconfortável.

Mestre Sifo-Dyas

Obi-Wan viaja até onde Kamino deveria estar e encontra o planeta. O jedi pousa no meio de um baita temporal e, após recusar guarda-chuvas de três vendedores que surgiram do nada, é recebido por uma pescoçuda que, surpreendentemente, diz que primeiro ministro está à sua espera.

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Na sala de recrutamento do MIB, Kenobi se encontra com Lama Su e o alien já começa a falar vários números, deixando Obi-Wan confuso – tal como eu durante as aulas de matemática do colégio. O ministro diz que 200 mil unidades já estão prontas com mais 1 milhão a caminho. Agora, unidades de que? Candidatos a melhor ator que Hayden Christensen? O jedi também não faz ideia mas mantém a pose respondendo que são boas notícias.

Eis que Su o pede para dizer pro mestre Sifo-Dyas que seu pedido sairá no prazo e é aí que damos uma pausa. Depois de Capitão Panaka e Conde Dooku, temos o mestre Sifo-Dyas – que virou Zaifo-Vias por aqui. Tinha um brasileiro no time de roteiristas da nova trilogia querendo sacanear geral, não é possível.

Continuando, Obi-Wan diz que Sifo-Dyas foi morto há quase 10 anos, ao que Lama Su responde que o falecido jedi ficaria orgulhoso do exército de clones que Kamino preparou para a República e convida Kenobi para inspecionar as unidades. Mais a frente falarei um pouco sobre a história desse pedido de exército de clones que os filmes deixam bem no ar.

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Orgulho, Preconceito e Jedi

O filme corta da trama misteriosa e instigante para o romance forçado e super parado de Padmé e Anakin que chegam na Veneza de Naboo. A dupla fica conversando, você quase dorme, o padawan diz que odeia areia mas gosta de coisas suaves, morde o beiço olhando pra mulher (sério), e começa a passar a mão na pele da senadora (Anakin Skywalker foi escrito pra ser um tarado num vagão de metrô lotado, é bizarríssimo).

Insanamente, Padmé não joga spray de pimenta na cara dele e eles se beijam. Sobe uma música romântica e, numa tirada muito boa, assim que Amidala se afasta, a música para por completo. Arrependida, a senadora diz que não deveria ter feito isso, deixando Anakin com uma cara de confusão risível que só um péssimo ator poderia proporcionar.

Mais tarde, os dois fazem um piquenique nas Cataratas do Iguaçu onde Anakin diz que não acredita que o sistema político atual funciona e, literalmente, propõe uma ditadura, fazendo Padmé – uma forte defensora de democracia – rir porque a senadora ainda está comemorando o dia oficial de não fazer sentido. Logo depois disso, Anakin surfa uma anta gigante por motivo de George Lucas.

O filme então se transforma em Orgulho, Preconceito e Jedi quando a dupla vai pra frente da lareira e precisamos escutar Anakin dizer coisas como “sou assombrado pelo beijo que você nunca deveria ter me dado” e “meu coração está batendo na esperança daquele beijo não virar uma cicatriz”. Padmé luta e consegue resistir às garras desse amor gostoso mesmo com a insistência do padawan.

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Tem caroço nesse angu

De volta a Kamino, após inspecionar os bebês em tubos, crianças jogando LoL e homens comendo Sucrilhos, Obi-Wan descobre que todos as unidades são clones de um caçador de recompensas chamado Jango Fett e vai até o seu apartamento conhecê-lo. Kenobi é recebido por Boba Fett, um clone sem crescimento acelerado que Jango requisitou, interpretado por uma criança que estava muito afim de rivalizar com Jake Lloyd (Anakin do Episódio I) pelo posto de pior ator mirim da saga.

O jedi logo interroga o caçador, perguntando se ele esteve em Coruscant recentemente e se conhece o mestre Sifo-Dyas (parece até uma piadinha). Após esconder sua armadura que reconhecemos do assassino lá do começo, Jango responde que possivelmente esteve na capital da República e que nunca ouviu falar naquele nome, revelando ter sido recrutado por um homem chamado Tyranus – só não é pior do que o vilão de Os Mercenários 2 que literalmente se chama Vilão.

Assim que Obi-Wan agradece pelos canapés e sai do apartamento, Fett manda Boba arrumar as coisas pra eles fugirem. Kenobi liga por Skype pra Mace Windu e Yoda pra relatar tudo que descobriu, incluindo que o pedido do exército foi feito por Sifo-Dyas em nome do senado há quase 10 anos – o que é estranho porque aparentemente o jedi foi morto antes disso. Windu diz que o Conselho Jedi nunca aprovou nada disso e Yoda fala pra Obi-Wan trazer o caçador de recompensas para interrogação.

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Jango já estava se preparando pra partir quando Kenobi chega e os dois começam a lutar na plataforma de decolagem, com Boba comandando a nave – cujo design é maneiríssimo, diga-se de passagem. Por mais que não role nada de grandioso e seja relativamente curta, a sequência é bem legal, novamente com a trilha sonora encaixadinha. O mandaloriano (sim, é a raça dele!) consegue escapar, mas o jedi joga um dispositivo de rastreamento na nave dele.

Usando o Waze, Obi-Wan segue Jango até um campo de asteróides onde acontece uma ótima perseguição entre as naves, com direito a uma bomba que faz um som de estouro totalmente memorável que ficou na minha cabeça desde a primeira vez que vi o filme. Entre vários barrel rolls que deixariam Peppy orgulhoso, o jedi consegue se esconder e continua secretamente seguindo o caçador de recompensas até um planeta chamado Geonosis.

É legal registrar que George Lucas afirmou uma vez que a técnica usada por Obi-Wan pra enganar Jango Fett – “pousar” num objeto maior para sumir do radar – foi aprendida pelo jovem Boba e utilizada por ele contra a Millenium Falcon no Episódio V.

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De volta à Tatooine

Enquanto isso, em Naboo, Anakin tem um pesadelo com a repercussão negativa da sua atuação (que é particularmente terrível nessa cena) e com sua mãe em perigo. O padawan decide cagar na cabeça da sua missão e do Conselho Jedi e voltar à Tatooine junto com Padmé para resgatá-la.

Após descobrir que Watto a vendeu para Cligg Lars, um fazendeiro que a libertou e se casou com ela (não sei se isso é bonito ou meio assustador), Anakin vai até a propriedade do cara. Chegando lá, ele reencontra C-3PO e é informado que sua mãe foi raptada pelo Povo da Areia.

Lars diz que uma equipe chegou a ser formada para salvá-la, mas dos 30 que foram, apenas 4 voltaram (os outros 26 decidiram viver estilo Mad Max depois que assistiram a Fury Road). Ele não foi junto porque perdeu uma perna e não pode cavalgar… até se curar. Que diabos, ele é algum tipo de homem-lagarto e vai crescer outra perna? E cavalgar? Cavalgar o que? Não rola ir de navezinha ou algo tipo? Que desculpinha.

Anakin deixa Padmé sozinha e sem proteção com essa família que ele acabou de conhecer e vai atrás do Povo da Areia na sua motoca voadora. O padawan encontra o acampamento dos nômades e o invade sorrateiramente, encontrando sua mãe em uma das tendas. Não dá nem tempo de pedir dinheiro pra comprar bala porque ela logo falece em seus braços, o que desencadeia a fúria do jovem Skywalker pra cima da galera.

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Precisamos falar sobre Anakin

Após retornar com o corpo de sua mãe, Anakin diz pra Padmé que um dia será o jedi mais poderoso do mundo e vai até aprender a impedir que as pessoas morram. Cheio de raiva, ele então revela que matou todos daquele clã do Povo da Areia – incluindo mulheres e crianças -, dizendo que eles eram “animais” e por isso o jedi os “abateu como animais”. Padmé, lembre-se, super defensora da paz, responde calmamente com “sentir raiva é humano” e você se controla pra não rir porque parece que o dia oficial de não fazer sentido ainda tá longe de acabar.

E é aí que fazemos outra pausa porque precisamos falar sobre Anakin Skywalker. O moleque é praticamente um antijedi (mas não tão legal quanto um sith) e ninguém faz nada em relação a isso. Só nesse filme, Anakin se mostra perdidamente apaixonado por Padmé – o que é estritamente proibido pelo código jedi -, emocionalmente ainda super apegado à sua mãe, questionador, arrogante, desobediente, pró-ditadura e, agora, assassino de mulheres e crianças. Se depois de tudo isso o cara ainda pode continuar sendo um jedi, amigo, o que é preciso pra ser expulso da ordem? Matar alguém, vestir o rosto da pessoa e dançar nu sobre o seu cadáver?

E não é como se ninguém soubesse dessas coisas. Obi-Wan claramente vê que seu padawan está apaixonado e no máximo diz “cuidado com seus pensamentos”. Yoda sente muita dor, sofrimento e morte quando Anakin está assassinando o Povo da Areia, mas não faz nada. Padmé ouve o rapaz se posicionar a favor de uma ditadura e admitir que abateu crianças como animais e isso não levanta nenhuma luz vermelha. O maior culpado pela queda de Skywalker para o lado negro é a negligência de todos ao seu redor.

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Furto de androide

Em Geonosis, Obi-Wan adentra as instalações no planeta e descobre uma reunião dos separatistas liderada pelo Conde Dooku, que encomendou o assassinato de Padmé e, aliado à Federação de Comércio, está construindo um novo exército de droides para vencer os jedi e extorquir a República.

Sem conseguir se conectar a Coruscant pela distância, Kenobi manda uma mensagem com suas descobertas para Anakin – que pra sua surpresa está em Tatooine – a fim de que o padawan a retransmita para o Conselho Jedi, mas é capturado no meio da transmissão. Skywalker informa o Conselho Jedi e, convencido por Padmé e desobedecer suas ordens de continuar em Tatooine, a dupla viajar até Geonosis para resgatar seu mestre.

E eles… meio que… roubam o C-3PO. O robô entra na nave junto com o R2-D2 pra ver o que tá acontecendo e eles decolam com ele, o que pode ser configurado como furto em qualquer galáxia.

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A encomenda dos clones

Conde Dooku surge pra bater um papo com o aprisionado Obi-Wan e tentar convencê-lo a se juntar à sua causa revelando que a República é controlada pelo lorde dos sith, Darth Sidious, e que juntos eles podem destruir a galera dos sabres vermelhos.

Acho que essa cena foi feita pra você ficar na dúvida se Dooku é bonzinho ou não (justamente porque ele fala a verdade pro jedi), mas tem tantos elementos gritando “vilão!” (como o local onde eles estão, as roupas do velhinho e o fato de que Kenobi está preso, né) na sua cara que fica difícil se deixar enganar – o que é uma pena, seria legal ter esse elemento de dúvida nessa parte da trama.

Agora que conhecemos o Conde Dooku, mais uma pausa que ninguém pediu pra explicar esse pedido misterioso do exército de clones. O mestre Sifo-Dyas era um membro do Conselho Jedi que foi afastado por ter algumas ideias radicais demais. Quando rolou o cerco a Naboo no Episódio I, o jedi achou toda a situação extremamente preocupante e previu que tempos sombrios estavam pra chegar. Hego Damask, um antigo conhecido de Sifo-Dyas e secretamente Darth Plagueis (o mestre de Palpatine), lhe deu a dica de que os clonadores de Kamino poderiam criar um exército e deixá-lo em standby caso tudo batesse no ventilador.

O jedi foi até o planeta e, secretamente, fez a encomenda com dinheiro fornecido pela Damask Holdings – um grupo financeiro clandestino. Mas, sem que ele soubesse, Darth Sidious e seu novo aprendiz – velho conhecido de Sifo-Dyas, o ex-jedi Conde Dooku (agora Darth Tyranus) -, descobriram essa trama dos clones. A mando de Tyranus, o jedi foi assassinado e o sith tomou controle da operação. Para garantir que tudo continuasse em segredo, Dooku apagou todos os dados de Kamino (e 37 outros sistemas, incluindo Dagobah) dos Arquivos Jedi.

Foi por isso que Obi-Wan não encontrou nada sobre o planeta e a criação do exército de clones foi feita sem ninguém do senado ou do Conselho Jedi saber.

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Jar Jar, o peão

Com a notícia de que os separatistas estão construindo um exército, cresce o clamor da alta cúpula política em Coruscant para que os clones de Kamino sejam utilizados. Um dos conselheiros de Palpatine lembra que eles não podem atropelar a votação do senado… a não ser que algum senador propusesse a votação de poderes de emergência para o chanceler.

“Sem Amidala por aqui, quem teria coragem de propor algo tão radical?” pergunta o pobre coitado Palpatine, com sua carinha de gatinho do Shrek olhando pro chão. Rola um silêncio e todos ficam olhando pra o representante da senadora, Jar Jar Binks (sim, ainda no filme), esperando ele se tocar.

O Gungan então vai até o senado e faz a proposta, causando grande comoção entre os presentes. Palpatine levanta e diz que, com grande relutância, aceita os poderes de emergência. Porque… é assim que a República funciona. Se um senador propõe tal coisa, tá feito. Não precisa de votação, de mais nada. Repito: a política no mundo de Star Wars consegue ser mais insana que a nossa.

O chanceler anuncia que seu primeiro ato será a criação de um exército da República para contra-atacar os separatistas, o que faz com que Yoda vá visitar os clonadores de Kamino enquanto Mace Windu pega todos os jedi disponíveis para resgatar Obi-Wan em Geonosis.

Após chegar no planeta, Anakin e Padmé – acompanhados por R2-D2 e C-3PO por motivos de deus ex e alívio cômico respectivamente – saem entrando na fábrica de droides com o cuidado de quem tá entrando na padaria pra comprar pão e obviamente são capturados após uma sequência longa demais e bem sem sal de trapalhadas pela linha de produção na qual o padawan vê seu sabre ser destruído.

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O conceito de estratégia…

Antes de serem levados pro meio de um coliseu para serem executados, mesmo após ouvir que Anakin curtiria uma ditadura e assassinou mulheres e crianças, Padmé diz que está perdidamente apaixonada pelo jedi e eles dão uma beijoca.

E essa é a única parte do filme na qual a trilha sonora fica meio estranha. Eles se beijam, o tema romântico deles cresce, eles param de se beijar e entram na arena – um clima completamente diferente e nada romântico -, vêem Obi-Wan acorrentado… mas o tema romântico do casal continua a todo vapor.

Padmé e Anakin são acorrentados ao lado de Obi-Wan que, após indagar o que eles tão fazendo ali e ouvir a dupla responder que veio salvá-lo, olha pra suas correntes e manda um sensacional “bom trabalho, hein, babacas”. Entram três bichos (destaque pro louva-deus dos infernos) na arena e rola uma sequência bacana de cada um dos personagens se soltando e lidando com a sua criatura.

O trio é cercado e parece que tudo está perdido quando Mace “Bad Mother Fucker” Windu chega com uma cacetada de jedi e eles… pulam no meio da arena. Sim, eles conseguem a façanha de se encurralar – e morre gente pra caramba nessa burrice. A cena na coliseu é legal até, mas tem o fator de exército de droides iguais versus vários jedi que você nunca viu, além de que as coreografias de luta no geral são bem fracas e a forma como o Windu derrota o Jango Fett é super boba. O único destaque mesmo é o alívio cômico nos ombros do C-3PO, funciona super bem.

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Yoda ao resgate

Os jedi vão sendo abatidos (morre muita gente, sério) até que os remanescentes são cercados. Quando tudo parece perdido mais uma vez, Yoda chega com o exército de clones pra resgatar a galera e contra-atacar o droides separatistas. Começa a guerra dos clones mencionada no começo Episódio IV.

Dooku se faz de desentendido perguntando pros outros membros separatistas como os jedi arranjaram um exército tão rápido – se você vê a cena sem saber da história do pedido dos clones que contei ali em cima, você realmente acredita que o cara tá perdidão – e eles decidem bater em retirada, com o conde fugindo com os planos da futura Estrela da Morte – o que é uma referência simples mas bem legal.

Padmé, Anakin e Obi-Wan avistam Dooku fugindo e vão atrás dele. Padmé não segura direito no suporte da nave e cai direto numas dunas de areia, o que faz com que Anakin se desespere e grite como uma criancinha desafinada pro piloto parar o ônibus. Kenobi faz o moleque perceber que ele tá sendo um idiotinha e eles continuam a perseguição, conseguindo interceptar Dooku.

Agindo mais uma vez como um completo imbecil e ignorando o plano de Obi-Wan de atacarem o sith juntos, Anakin sai correndo no melhor estilo Leroy Jenkins apenas pra tomar vários raios na cara e ser jogado pro lado tal como um tomate feio numa feira de rua, deixando seu mestre sozinho.

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Um show de péssima direção

A luta entre Obi-Wan e Dooku é mil vezes mais lenta que a do primeiro filme entre o jedi e Darth Maul. Ok, isso é por causa da idade avançadíssima de Christopher Lee, mas pela forma fácil como Obi-Wan é subjugado pelo sith (a péssima coreografia também não ajuda), fica a impressão de que o personagem piorou como guerreiro desde o Episódio I.

Quando o conde está prestes a dar o golpe final no ferido Kenobi, Anakin pula como o filho bastardo de um guepardo com uma pulga e salva seu mestre. Os dois começam a briga de rua e acontecem umas coisas meio nada a ver, como o padawan cortar a energia daquela área simplesmente pra luta ficar mais estilosa ou rolarem 5 cortes seguidos com zoom apenas nas faces dos oponentes com os sabres passando pela frente (não funciona nada bem).

Sendo que isso volta a se repetir de forma mais bizarra: dessa vez, nos últimos cortes, do nada, Dooku e Anakin mudam de lado na tela. Começa com o sith à esquerda, corte, jedi à direita, corte de volta pro conde à esquerda. Mas quando volta pro moleque, ele agora tá à esquerda e Dooku foi pra direita, sem ninguém ter se mexido – não há um corte pra uma câmera mais distante com os dois trocando de lado, é imediato. Um show de péssima direção.

Dooku decepa o braço direito de Anakin – numa coreografia horrorosa na qual o jedi claramente estende o braço sem motivo nenhum e fica esperando o golpe (essa sequência de luta inteira é um desastre) – e joga o padawan pra cima de Obi-Wan tipo um saco de estrume.

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Yoda novamente ao resgate

Eis que Yoda chega lentamente com sua bengalinha e vai pra cima de Dooku no modo Daiane dos Santos verde, pulando e quicando pra tudo quanto é lado. É claro que aí entra a versão em CG do sith pra poder bater de frente com a velocidade do mestre jedi – e a coreografia melhora absurdos.

Vendo que a situação tá complicada, o conde usa a força pra jogar uma viga enorme em cima de Obi-Wan e Anakin. Enquanto Yoda para para (o novo acordo ortográfico deixa essa frase bem confusa, não é?) salvá-los, Dooku foge na sua nave que usa um tipo de vela. No espaço. Não me pergunte.

De volta à Coruscant, o conde é recebido por Darth Sidious e é revelado que a guerra que começou faz parte dos planos dos dois. Enquanto isso, os jedi conversam sobre o que Dooku disse sobre o senado estar sendo controlado por um sith, decidindo prestar mais atenção nos políticos.

Fechando o nosso Orgulho, Preconceito e Jedi, Padmé e Anakin se casam secretamente em Naboo, com R2-D2 e C-3PO como únicas testemunhas. C-3PO roubado da família Lars, lembre-se.

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13 anos depois. E aí?

Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones é muito mais problemático do que eu lembrava. Por mais que o filme comece acelerado e instigante, com uma boa perseguição nas vias de Coruscant lá no começo, a construção da amizade entre Obi-Wan e Anakin na verdade faz parecer que eles se odeiam, Hayden Christensen é tranquilamente um dos piores atores de Hollywood, o romance entre Padmé e o padawan é completamente forçado e não faz o menor sentido, a direção é uma bagunça, as coreografias de luta são um festival de horror…

Além disso, Skywalker é o pior jedi da galáxia, mas, mesmo assim, não é expulso. O cara tem todos os defeitos possíveis e constantemente infringe o código jedi na cara de todo mundo. Você pode argumentar que ele continua na ordem por possivelmente ser o escolhido da profecia, mas isso seria uma desculpa pra galera ficar mais em cima dele e não negligenciá-lo como o fazem, ignorando todas as suas ações.

Rever o Episódio II foi uma experiência bem sofrida mas valeu pra uma coisa: eu achava que o Episódio I era o pior filme da saga. Talvez ele seja o mais bobo ou irrelevante, mas em termos de qualidade geral mesmo, Ataque dos Clones é que merece esse título.

O que dá vontade de fazer com George Lucas após rever o filme: perguntar se ele tava bêbado quando dirigiu essa joça.

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