Review: A Grande Muralha

É engraçado como Hollywood às vezes se encanta com determinados nichos e mete os pés a explorá-los, mesmo sem saber direito como. O cinema chinês nunca foi exatamente um alvo dessa exploração, mas chegou perto. Vira e mexe aparece alguém querendo beber dessa água exótica e eu só quero usar essa deixa pra falar de Aventureiros do Bairro Proibido mesmo, porque ali já tinha umas paradas bem loucas vindas do oriente, mas sucesso mesmo fez Ang Lee com O Tigre e o Dragão. O filme de 2001 não apenas abocanhou o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira como concorreu a Melhor Filme, o que, por si só, já é uma grande vitória.

Pegando o vácuo do sucesso de Ang Lee, o diretor Zhang Yimou teve seu lugarzinho ao sol ocidental. Sob a tutela de Quentin Tarantino, o excelente Herói foi lançado desse lado de cá do mundo e mostrou de verdade o bom cinema chinês. Com essa estreia de 2002, Zhang Yimou já ganhou moral pra fazer produções mirando o mercado americano e em 2004 fez O Clã das Adagas Voadoras. De lá pra cá, nenhum dos seus filmes ganhou tanta atenção, até colocarem o Matt Damon no elenco…

Olha a cara de cu desse cidadão

Bonitinho, Mas Ordinário

Caso você já tenha assistido a algum filme do Zhang Yimou, provavelmente ficou impressionado com o visual. O cara realmente manja de estética. Os figurinos enchem os olhos, é tudo absurdamente bonito mesmo. A Grande Muralha não foge a essa regra, mas peca em quase todo o resto.

O filme já começa de forma meio safada, dizendo que tem uma pá de histórias sobre a grande muralha da China, muitas lendas, etc e tal, e que essa é só uma dessas lendas. Ou seja, não espere nada verossímil ou rebuscado demais, vai rolar um bagulho louco e é isso. E por mim tá ótimo, mas falta substância. Falta tanto que até o CGI inicial da muralha já tem aquela cara de videogame da geração passada. Na sequência, já conhecemos a turminha do Matt Damon, que tá ali no deserto junto com o Pedro Pascal e uma galera que claramente não vai durar muito tempo. O objetivo dos caras é roubar pólvora e levar pro ocidente, mas, no meio do caminho, eles matam um monstro, fogem de uns bárbaros e são capturados pelo exército mais colorido que o mundo já viu.

Nessa hora rola uma das coisas boas do filme: os chineses falam chinês! Tirando uns 3 cabocos que falam inglês, porque tem um Willem Dafoe morando com eles há 25 anos, o resto só fala em mandarim mesmo e foda-se se os gringos não tão entendendo. Inclusive tem uns breves momentos que o Pedro Pascal manda um espanhol maroto pro Matt Damon, justamente pra galera que fala inglês não entender.

Depois de contar a história do monstro, o Matt Damon já é o pica das galáxias porque matou o bicho sozinho e aí já rola aquele facepalm mental. Os chineses são organizados PARA UM CARALHO, lutam PARA OUTRO CARALHO, enfrentam as criaturas há FUCKING 2 mil anos, mas aí chega o branco fdp que foi lá pra roubar e vira herói instantaneamente! PUTA MERDA HEIN!

Finalmente, o primeiro confronto massivo acontece na sequência. Os monstros são criaturas do folclore chinês, um tal de taotie (na legenda virou tao tei) que aparece normalmente em vasos  de bronze das dinastias Shang e Zhou, e significa ogro faminto. No filme, são uns lagartos feiosos que se comportam semelhante aos enxames dos zergs de Starcraft. Particularmente achei bem desinteressantes, mas é o que tem pra hoje. Claro que quem salva o dia é Matt LEGOLAS Damon! E eu tô até agora sem entender pra que ele quebra uma besta pra fazer um arco do MacGyver se tinha uma multidão de arqueiros ali do lado…

Depois disso os gringos já são da família. Você vai acompanhando a ascensão da comandante Lin Mae dentro da Ordem Sem Nome (olha a referência aí!), enquanto William (cansei de chamar ele de Matt Damon) e Tovar (esse é o Pedro Pascal) ficam de esquema com Ballard (Willem Dafoe) pra roubar pólvora e rapar o pé da China. Obviamente, William começa a gostar de ser herói e a relação dele com Tovar vai ficando complicada. Graças aos estrangeiros, os chineses descobrem a fraqueza das criaturas e tudo acaba se resolvendo.

Sim, parece que eu contei tudo, mas isso é nem a metade do filme.

O visual das armaduras é um dos pontos altos do filme

Entre Erros e Acertos

De repente você não curte, mas tem um filme chamado O 13º Guerreiro, com o Antonio Banderas, onde ele é um árabe que vai viver entre vikings. Eu quando assisti pensei “aí o cara chega lá do outro lado do mundo e vai ser o sarraceno matador de viking fodão” e isso nunca acontece! O cara toma surra de piroca mole de qualquer um dos vikings ali e isso é lindo. É justamente a maior escorregada de A Grande Muralha. William chega lá sendo fodão e sai mais fodão ainda. O homem branco chega mais uma vez pra salvar os INSIRA AQUI QUALQUER OUTRA ETNIA dos bichos papões.

Outro problema do filme é a qualidade duvidosa dos efeitos especiais em alguns momentos. Mas entre clichês, monstros genéricos e uma trama extremamente simples, o filme não é um total desperdício. Ele não chega a ser ofensivo a sua inteligência (só pede um pouco demais de suspensão de descrença em alguns momentos) e diverte bastante, além de encher os olhos com os figurinos. Não é um filme profundo como Herói, nem belo como O Clã das Adagas Voadoras, mas vale pela ação e pela grandiosidade dos cenários.