Calma, cara (Divulgação/Warner)

Martha é mais que um nome, mas Batman vs Superman se esquece disso

Batman vs Superman é um filme ruim. MUITO ruim. Quase intragável. É realmente difícil enumerar todos os seus problemas. Roteiro ruim, diálogos terríveis e edição bagunçada são apenas alguns dos vários tropeços que o longa coleciona. O resultado é essa bomba que a DC tem em mãos.

Isso não quer dizer que ele não tem seus acertos. São poucos, é verdade, mas eles estão lá. O Batman tá bacana, a Mulher-Maravilha tem um potencial enorme e as cenas de ação são realmente bem feitas. Porém, talvez o maior acerto do filme seja algo perdido em meio a toda essa bagunça.

Assim como a batalha em si, a conclusão do embate entre Batman e Superman deveria ser algo memorável. O momento em que eles põem suas diferenças de lado para lutar por um bem comum é, de verdade, o embrião daquilo que virá a se tornar a Liga da Justiça. E, no caso, a solução encontrada foi um nome: Martha. Tanto Bruce Wayne quanto Clark Kent compartilham de figuras maternas que possuem o mesmo nome e é essa a razão que faz com que os então inimigos se tornem aliados.

E é claro que o Snyder não consegue fazer com que essa cena passe o que ela precisava passar para o público. Enquanto ele perde um tempo desnecessário reforçando que o Homem de Aço é uma alusão a Jesus Cristo, ele não dedica mais do que alguns segundos ao momento em que os dois heróis se dão conta de que, no fim das contas, eles são iguais. Não por acaso, o que deveria ser o ponto alto da coisa toda virou piada.

batman vs superman

O Batman não para de bater no Superman porque suas mães têm os mesmos nomes. Na verdade, o que segura o Cavaleiro das Trevas naquele momento é ele perceber que aquele ser aos seus pés é um ser humano. Vindo de outro planeta e com poderes para destruir o nosso planeta, mas ainda um “ser humano”. É quando ele diz um nome que lhe é tão familiar — Martha — que Bruce Wayne percebe o quanto ele tem em comum com aquele ser que ele não entende e, portanto, teme.

É o que chamamos de empatia, de se projetar no outro e reconhecê-lo como um igual. No momento em que o Superman moribundo chama pela sua mãe, o Batman percebe que aquele deus que as pessoas adoravam ou o monstro que ele temia nada mais é do que uma pessoa comum. É o estalo que o faz olhar para o seu inimigo como um humano e não como algo diferente do seu mundo.

Dentro do contexto no qual o Homem-Morcego estava envolvido, isso ganha um peso muito maior. Ignorando todos os demais problemas de caracterização de BvS, a gente sabe que aquele Batman ali não é o herói que a gente conhece de outras mídias ou dos filmes anteriores, mas alguém amargurado e bastante radical. Com o perdão do desgaste do termo, um fascista. O próprio Alfred passa o longa inteiro condenando o novo comportamento de seu patrão. Ele é alguém cego pela sua própria visão distorcida do que é correto.

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Assim, quando o Superman se revela um merda como qualquer humano, é como se ele percebesse que esse outro que ele tanto teme e odeia é alguém igual a ele. E isso deveria impactar, pois é uma espécie de redenção do personagem. Depois de passar metade do filme atirando e batendo nos outros igual um cachorro louco, ele parou para pensar e rever o quanto estava errado. Deveria ser um dos grandes momentos do filme. Se o universo cinematográfico da DC quer ser mais sério que o da Marvel, essa cena em questão deveria ser mais valorizada para mostrar tanto que seus deuses são tão humanos quanto os mortais e, principalmente, que seus heróis também são igualmente falhos. Era a chance de desenvolver seus personagens, algo que o longa não faz em nenhum outro momento.

Só que nada disso acontece porque o filme não sabe explorar esse elemento e perde a chance de fazer algo grande. O diretor joga toda a carga dramática no lixo para mostrar o Batman rosnando mais uma vez e logo entra aparece um monstro gigante cuspindo laser pra acabar com tudo, fazendo o público esquecer o que acabou de ver.

Isso não é o suficiente para salvar o filme. Longe disso, já que essa leitura apenas mostra como o filme se perde nele mesmo e não consegue dar a profundidade necessária para desenvolver seus personagens e criar bases para um universo compartilhado. Bastaria um pouco mais de cuidado, uma direção um pouco mais pensada e talvez tivéssemos um resultado bem diferente do que foi mostrado.

Mas é muito mais elegante destruir tudo em câmera lenta, aparentemente.