Fragmentado ou “Como o M. Night Shyamalan voltou a fazer bons filmes”

Quando o primeiro trailer de Fragmentado, novo filme do diretor M.Night Shyamalan foi divulgado, era possível falar que talvez o cara estivesse voltando a fazer longas interessantes, deixando de lado o hype gerado lá no começo da sua carreira e que, de certa forma, cagou completamente com o resto dela.

Estrelado pelo James McAvoy e Anna Taylor-Joy (de A Bruxa), a história de um sequestrador com múltiplas personalidades parecia ser realmente interessante. Então, meses antes de sua estreia, o filme foi exibido no Fantastic Fest. Um dos pedidos feitos aos espectadores era o de não revelar o final do filme. No mesmo dia, boa parte do público saiu elogiando e falando que queriam muito falar sobre o final, algo que gerou mais curiosidade.

Obviamente, algum filho da puta queimou a largada antes do tempo, mas o negócio ainda não alastrou o suficiente. Após o lançamento do filme nos EUA, mais gente ficou sabendo do que o negócio se trata. Com a chegada de Fragmentado aos cinemas brasileiros, eu vou socar o spoiler logo na cara pra poder falar do resto do filme. Se você ainda não viu o filme, faça isso antes. Eu vou te dar o review que você precisa: É um baita filme. Assiste lá.

 

Pronto?

 

Posso falar?

 

Ok, Fragmentado é uma sequência de Corpo Fechado, aquele que eu ainda acho o melhor filme da carreira do Shyamalan. De um jeito bem malandro, o diretor conseguiu criar uma sequência que fãs vêm pedindo há anos, sem que ninguém soubesse e com total aprovação dos envolvidos. Não rola uma parada forçada, o filme simplesmente funciona sozinho, sem qualquer ligação com a história do personagem do Bruce Willis. Aí quando a ligação é feita, não só fica mais legal, como tudo o que rolou antes faz mais sentido.

James McAvoy é um monstro

Com as próprias pernas, Fragmentado é um ótimo filme de suspense sobre um sujeito chamado Kevin, que sequestra três adolescentes e revela, bem cedo, que tem trocentas personalidades diferentes (23 pra ser mais exato).

Durante o filme, a existência de uma vigésima quarta personalidade, chamada “The Beast” mostra uma teoria de que o cérebro pode influenciar em todo o organismo de uma pessoa com mais de uma personalidade, podendo lhe trazer diferentes poderes.

Eventualmente, isso se mostra realidade, mas não chega a ser tão impressionante como o McAvoy mudando de personalidade com rapidez e de uma maneira realmente convincente. Desde trejeitos diferentes, voz, maneira de OLHAR pras outras pessoas, o ator mostrou um trabalho impressionante, realmente atuando em vários papéis dentro do mesmo corpo.

É o tipo de filme que você usar como exemplo para quando alguém falar “Mas o McAvoy é um bom ator?”.

O retorno de Shyamalan

É inegável que o M.Night Shyamalan tem talento. O maior problema da carreira do cara é que ele começou no melhor esquema Ícaro, voando muito perto do sol rápido demais, acreditou no próprio hype e lançou uma sequência de filmes HORRÍVEIS.

Com Fragmentado, não só ele volta para um universo que já conhecia, mas também mostra qual é o tipo de filme que sabe mesmo fazer. Não é problema algum  ficar dentro de um gênero ou estilo na hora de fazer seus filmes e, se After Earth, The Happening e The Last Airbender mostraram, é que o Shyamalan não leva jeito pra ação ou sei lá, vento malvado (se bem que The Happening é um dos melhores filmes de comédia involuntária que eu já assisti).

A melhor coisa do filme é que ele não precisava ter ligação alguma com Corpo Fechado. Desde a sua primeira cena até a sua penúltima, ele cria o seu próprio universo, o qual você se interessa pelos personagens sem pensar muito em como eles vão se conectar com outros fora da história.

De um jeito bem maroto, o Shyamalan conseguiu criar um universo de heróis e vilões, cheios de poderes especiais, muito mais coeso que a Warner e, até certo ponto, até a Marvel conseguiram. Tudo tá conectado, mas realmente não precisaria, e eu acho que é essa a magia do grande plot twist de Fragmentado.

No geral, Fragmentado é um ótimo filme de suspense, com algumas cenas que pesam um pouco a mão, mas nada que atrapalhe toda a sua qualidade. Com atuações realmente impressionantes e uma ligação que pode significar uma sequência REALMENTE LOUCA, o filme mostra que o Shyamalan não gastou tudo o que tinha naqueles primeiros filmes e ainda tem muito o que fazer em Hollywood. É só não embarcar no próprio hype novamente que já tá ótimo.